Poluentes resultantes dos incêndios de 2017 associados a aumento de mortalidade

Estudo detetou um aumento da concentração de um dos poluentes do ar mais graves em termos de saúde pública, durante os incêndios que fustigaram o Norte e Centro de Portugal em outubro de 2017.

Os fortes incêndios que atingiram o Norte e Centro de Portugal em outubro de 2017 aumentaram a concentração de matéria particulada (PM10) – um dos poluentes do ar mais graves em termos de saúde pública – em território nacional. A conclusão é de um estudo  do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), segundo o qual a exposição à PM10 terá tido um efeito significativo na mortalidade, em Portugal, durante o mês de outubro de 2017.

Os incêndios nacionais de 2017 foram potenciados pelos ventos fortes do Furacão Ofélia, que passou pela Península Ibérica e arrastou consigo poeiras vindas do Norte de África que chegaram ao nosso país. Devido a estes eventos, uma enorme quantidade de poluentes foi emitida para a atmosfera, fazendo com que os cidadãos ficassem expostos a níveis elevados de matéria particulada, com possíveis danos para a sua saúde.

Considerando este contexto, “decidimos, em primeiro lugar, estudar a trajetória da matéria particulada, resultante dos incêndios, no sentido de averiguar se atingiram países mais distantes”, explica Sofia Augusto, primeira autora da investigação.

Em segundo lugar, “procurámos perceber se a mortalidade da população portuguesa tinha sofrido uma variação, no mês de outubro, devido às partículas que resultaram dos incêndios florestais e das poeiras do deserto do Saara”, acrescenta a investigadora.

De Portugal ao Reino Unido

A investigação, publicada agora na revista Environment International, demonstrou que as concentrações de PM10 aumentaram durante os incêndios florestais de outubro de 2017, em todo o país, atingindo níveis extremamente elevados nos distritos mais afetados pelos fogos. O maior aumento de partículas registou-se no distrito de Leiria. Seguiram-se os de Lisboa e de Santarém.

Mas o impacto dos incêndios não se fez sentir só em Portugal. Os investigadores constataram que a pluma de fumo originada pelos fogos portugueses alcançou países do Norte da Europa, como o Reino Unido. “Percebemos que os fogos nacionais afetaram países distantes, colocando a saúde dessas populações em risco, devido à exposição a uma maior quantidade de partículas”, refere.

O impacto dos incêndios de 2017 na mortalidade

O estudo conclui ainda que as partículas tiveram um efeito significativo na mortalidade por todas as causas e por causas relacionadas com doenças cardiorrespiratórias. Por cada 10 µg/m3 (microgramas por m3) adicionais de PM10 emitidas para a atmosfera, houve um aumento de 0,89% no número de mortes por todas as causas e de 2,34% no número de mortes relacionadas com doenças cardiorrespiratórias.

Durante o mês de outubro, registaram-se, devido à exposição da população a matéria particulada, resultante dos incêndios, 100 mortes por todas as causas e 38 óbitos relacionados com problemas cardiorrespiratórios, em Portugal.

A nível distrital, Lisboa foi a área onde houve um maior número de mortes (provavelmente por ser a mais populosa do país), seguida de Leiria (onde a exposição às partículas foi maior). Nestes dois distritos, registou-se também a maior mortalidade por doenças cardiorrespiratórias.

Recomendações

Devido às alterações climáticas, é expectável um aumento do número de meses com recorde de temperaturas elevadas, o que se deverá traduzir num aumento do número de incêndios florestais não controlados. Por isso mesmo, e tendo em conta os impactos nocivos da exposição à matéria particulada, Sofia Augusto salienta a importância de se apostar na educação cívica da população nesta área. “É crucial que fechem as janelas, quando estiverem perto de locais com incêndios ativos, de forma a evitarem inalar fumo e poeira, que evitem também sair à rua e que se protejam”.

Paralelamente, a investigadora do ISPUP sublinha a “necessidade de existir uma ação europeia conjunta para estabelecer estratégias de prevenção entre países, dado que, como se constatou neste estudo, a matéria particulada é transportada para longas distâncias, afetando diferentes países”.

O artigo designado Population exposure to particulate-matter and related mortality due to the Portuguese wildfires in October 2017 driven by storm Ophelia conta também com a participação dos investigadores Nuno Ratola, Patricia Tarín-Carrasco, Pedro Jiménez-Guerrero, Marco Turco, Marta Schuhmacher, Solange Costa, João Paulo Teixeira e Carla Costa. O estudo encontra-se acessível AQUI.

Imagem: Pixabay/Ylvers

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