Estudo pioneiro do ISPUP mostra que a imunoterapia pode prevenir a asma em crianças

Uma investigação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que a imunoterapia, também conhecida como vacina antialérgica, poderá ajudar a prevenir a progressão da doença alérgica e o desenvolvimento de asma em crianças com sensibilidade a alergénios, como o pólen e os ácaros.

Esta terapia atua através da administração de doses controladas de extratos de alergénios, com o objetivo de reeducar o sistema imunológico no sentido da tolerância e, assim, responder cada vez menos aos mesmos.

Ao invés de apenas controlar e aliviar os sintomas, como é o caso dos anti-histamínicos e dos corticoides nasais, que são os tratamentos mais amplamente utilizados, as vacinas antialérgicas procuram combater a causa das alergias, diminuindo os sintomas a longo prazo.

Para garantir a sua eficácia, a imunoterapia dura geralmente de 3 a 5 anos, com a administração contínua da vacina de forma subcutânea ou oral, sendo que esta deve ser prescrita por um médico especialista em imunoalergologia.

Imunoterapia diminuiu em 25% o risco de desenvolver asma

Para averiguar se a imunoterapia seria eficaz na prevenção do desenvolvimento de asma, em indivíduos com sensibilidade a aeroalergénios – alergénios presentes no ar, como o pólen e os ácaros –, os investigadores realizaram uma meta-análise de 18 estudos previamente publicados, somando uma população total de 325 826 pessoas avaliadas.

“Aqui, a novidade é a abrangência dos estudos que avaliamos, porque incluímos, não só, ensaios clínicos, conduzidos em ambiente controlado, mas também utilizamos dados de estudos de vida real. Portanto, acabamos por juntar várias fontes de informação num só estudo, e chegar à conclusão de que é muito provável o efeito preventivo da imunoterapia na progressão da doença alérgica e no desenvolvimento de asma”, refere Mariana Farraia, primeira autora do estudo e investigadora no Laboratório de Epidemiologia das doenças alérgicas, pertencente ao Laboratório Associado para a Investigação Populacional Translacional e Integrativa (ITR), coordenado pelo ISPUP.

Verificou-se, ao compilar os dados dos estudos abrangidos pela meta-análise, uma diminuição de 25% no risco de desenvolver asma após a realização de imunoterapia contra a alergia ao pólen de gramíneas e aos ácaros.

Apesar dos estudos analisados incluírem crianças e adultos, os efeitos da imunoterapia na prevenção da asma ficaram particularmente demonstrados nas crianças. Além disso, o efeito mostrou-se maior quando o tratamento durou pelo menos 3 anos, e quando os pacientes tinham sensibilidade a apenas um alergénio.

A importância do estudo

Os investigadores envolvidos destacam a natureza pioneira deste estudo, o primeiro a solidificar a hipótese da existência de uma solução terapêutica a longo prazo para as alergias e para a asma, capaz de reverter o histórico natural destas doenças, que tendem a piorar progressivamente ao longo do tempo.

“Havia a perceção de que as vacinas antialérgicas poderiam modificar a história natural da doença, e este é um tema debatido há bastante tempo, com prós e contras envolvidos. O que este estudo vem, pela primeira vez, demonstrar, é que é possível mudar a história natural da doença com esta intervenção, o que é completamente inovador”, esclarece André Moreira, coordenador do estudo. 

A investigação, intitulada Allergen immunotherapy for asthma prevention: A systematic review and meta-analysis of randomized and non-randomized controlled studies, foi publicada na revista científica Allergy.

Assinam também o estudo os investigadores Inês Paciência (ISPUP), Francisca Castro Mendes (ISPUP), João Cavaleiro Rufo (ISPUP),  Mohamed Shamji (National Heart and Lung Institute, Imperial College London, London, UKImperial College London) e Ioana Agache (Faculty of Medicine, Transylvania, University, Brasov, Romania).

A investigação faz parte do projeto de doutoramento de Mariana Farraia, que recebeu financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). O investigador João Rufo, um dos coautores, é também financiado através do Estímulo ao Emprego Científico Individual.

Imagem: Pexels/Sharefaith

Pode ainda ver
Artigos relacionados