Estudo do ISPUP alerta para riscos na saúde dos bombeiros portugueses expostos a incêndios florestais

O estudo “Impact of occupational exposure to wildfire events on systemic inflammatory biomarkers in Portuguese wildland firefighters“ levado a cabo por uma a equipa de investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) foi o primeiro a avaliar, de forma longitudinal, o impacto da exposição dos bombeiros em cenários reais de combate a incêndios florestais em biomarcadores inflamatórios.

Este estudo, publicado recentemente na revista científica Environmental Research, acompanhou 59 bombeiros de várias corporações da região Norte de Portugal, recolhendo amostras de sangue e urina antes e após a participação em missões de combate a incêndios florestais. A investigação centrou-se na análise de biomarcadores inflamatórios – citocinas IL-6, IL-8, TNF-α e hs-CRP – e da exposição a hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), que são compostos tóxicos presentes no fumo dos incêndios.

Os resultados indicaram um aumento significativo nos níveis de IL-6 (1.25 vezes superior) e IL-8 (2.62 vezes superior) – dois dos biomarcadores inflamatórios analisados – após a exposição ao combate a incêndios. A média dos valores da proteína hs-CRP, associada a risco cardiovascular, permaneceu acima do limite de risco (>3.0 mg/L) em ambas as fases do estudo. Além disso, foi observada uma relação direta entre os níveis de IL-8 e um metabolito urinário específico da exposição a PAHs (2-hidroxifluoreno), bem como níveis mais elevados de IL-8 em bombeiros com mais de 12 horas de combate, revelando uma associação clara entre a exposição a incêndios florestais e a deterioração da saúde. O aumento destes biomarcadores indica uma resposta inflamatória a nível sistémico que pode estar associada a um maior risco de problemas de saúde a longo prazo, nomeadamente de doenças cardiovasculares.

Os investigadores sublinham o valor translacional e científico do estudo que abre caminho para o desenvolvimento de programas de biomonitorização contínua, essenciais para proteger a saúde destes profissionais que enfrentam os perigos do combate aos incêndios florestais em prol das populações.

“Estes dados reforçam que é preciso fazer mais para proteger a saúde dos bombeiros. Há uma necessidade urgente de implementar medidas de proteção e estratégias de saúde ocupacional, incluindo o uso adequado de equipamentos de proteção individual e práticas de descontaminação pós-incêndio”, explica Filipa Esteves, primeira autora do estudo e investigadora do ISPUP. Estas medidas podem ser consultadas num capítulo de acesso aberto intitulado Wildland Firefighters: a crucial weapon for Forest Fire Management. What risks do they face?, da autoria da mesma equipa de investigadores.

Este estudo reforça a importância da implementação de um Programa de Biomonitorização Humana a nível nacional, que vise a avaliação da exposição a químicos na população portuguesa em diversos contextos, nomeadamente ocupacionais.

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