Um estudo recente – Long-term back pain recall in Generation XXI adolescents: the role of sensitivity and pain history – conduzido por uma equipa de investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), analisou a forma como os adolescentes recordam episódios de dor lombar que sentiram quando eram mais novos. O estudo revelou que essas memórias estão fortemente associadas a outras experiências relacionadas com a dor e às características de cada indivíduo.
A investigação baseou-se nos dados de 1089 participantes da coorte Geração XXI, recolhidos aos 13 e 18 anos. Esta informação permitiu comparar a dor nas costas reportada na adolescência precoce com as memórias dessa dor aos 18 anos. Os resultados mostraram que uma parte significativa dos adolescentes não recordava com precisão a dor sentida cinco anos antes: 12% subestimaram ou esqueceram episódios de dor (sub-recordação) e 8% lembravam-se de dores que não tinham sido reportadas na altura (sobre-recordação).
Segundo Nare Navasardyan, investigadora do ISPUP e autora do estudo, “estes dados ajudam-nos a perceber melhor como as memórias de dor se formam e persistem durante o desenvolvimento. Essa compreensão é essencial para antecipar e prevenir trajetórias de dor crónica.”
Os investigadores identificaram vários fatores que influenciaram a precisão com que os adolescentes recordavam ou esqueciam episódios anteriores de dor. Uma maior sensibilidade ao ambiente, caracterizada por uma reatividade acentuada a estímulos físicos, sociais ou emocionais, foi associada a uma recordação mais precisa da dor passada. Por outro lado, os adolescentes com uma perceção positiva da sua qualidade de vida tendiam a esquecer episódios anteriores de dor lombar.
Outro dado relevante foi a influência da dor atual: os adolescentes que sentiam dor lombar aos 18 anos tinham maior probabilidade de recordar com precisão episódios anteriores. Pelo contrário, aqueles com um diagnóstico médico ou familiares próximos com dor crónica apresentaram mais inconsistências nas suas recordações, esquecendo ou relatando de forma imprecisa a dor passada.
O estudo identificou ainda diferenças entre sexos, no que diz respeito à precisão das recordações: embora os rapazes apresentassem, de um modo geral, uma maior consistência entre os relatos anteriores e a memória posterior, tinham maior probabilidade do que as raparigas de esquecer episódios de dor lombar que efetivamente tinham vivido.
As conclusões do estudo sublinham que a memória da dor não é apenas uma recordação do passado, mas também um reflexo das experiências atuais relacionadas com a dor. “É fundamental compreender que o relato da dor pode não ser uma descrição exata do que aconteceu, mas sim uma reconstrução influenciada por diversos fatores pessoais e contextuais”, explica Nare Navasardyan. “Este conhecimento pode ajudar a melhorar a comunicação entre profissionais de saúde e pacientes e a desenvolver abordagens mais individualizadas no acompanhamento da dor lombar na adolescência”, conclui a investigadora.
O estudo Long-term back pain recall in Generation XXI adolescents: the role of sensitivity and pain history foi publicado na revista científica PAIN Reports e teve o apoio de várias instituições, incluindo a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e a Fundação para a Investigação em Reumatologia (FOREUM).