Pobreza e proximidade a fast-food associadas a maior obesidade infantil

As crianças que vivem em locais mais próximos a estabelecimentos de fast-food e com maiores níveis de privação socioeconómica têm maior probabilidade de serem obesas. A conclusão é de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que procurou perceber de que forma é que o contexto onde vivemos influencia a obesidade infantil.

As causas da obesidade infantil são complexas e multifatoriais. Sabe-se que a obesidade tem uma componente genética, mas também é influenciada por comportamentos e exposições ambientais que condicionam as escolhas pessoais.

Segundo Ana Isabel Ribeiro, primeira autora do estudo, coordenado por Henrique Barros, “esta investigação pretendeu mostrar qual a influência do ecossistema onde estamos inseridos no desenvolvimento de obesidade infantil, uma condição que é um grande problema de saúde pública, por estar associado a múltiplos problemas de saúde física, como a diabetes, hipertensão e doença cardiovascular, e saúde mental, nomeadamente baixa autoestima, exclusão social e depressão.

Os investigadores estimaram a prevalência de obesidade infantil na Área Metropolitana do Porto e viram de que forma é que as crianças obesas estavam distribuídas pelo território. Seguidamente, analisaram se algumas características das áreas de residência das crianças, por exemplo, o nível de privação socioeconómica dos locais, a existência de espaços verdes e de áreas para a prática de atividade física e a disponibilidade de opções alimentares menos saudáveis (fast-food) perto de casa, poderiam explicar, ou não, a prevalência de obesidade.

Para avaliar a obesidade, foi utilizado o índice de massa corporal (IMC) de 5200 crianças com 7 anos de idade, da coorte Geração XXIum estudo longitudinal que acompanha, desde 2005, cerca de 8600 participantes que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto (Porto, Gondomar, Matosinhos, Valongo, Maia e Vila Nova de Gaia). A informação relativa ao IMC foi cruzada com as características dos locais de residência das crianças.

“Verificámos que a prevalência de obesidade é de 15.4% entre as crianças da Área Metropolitana do Porto. No entanto, a distribuição das crianças obesas no território é bastante desigual. Há zonas onde a prevalência de obesidade é significativamente superior a esta média. São aquilo que nós denominados de hotspots, ou seja, locais onde a percentagem de crianças obesas está acima do esperado”, refere.

Os investigadores verificaram que estes hotspots se encontram em duas áreas geográficas da Área Metropolitana do Porto (em algumas freguesias de Matosinhos e Valongo). “Para além do contributo dos fatores de risco tradicionais, a presença destas zonas de elevada prevalência foi em parte explicada pela maior proximidade a estabelecimentos de fast-food e pela elevada privação socioeconómica destes lugares”, explica.

“Vimos que as crianças que vivem em locais com maior proximidade a estabelecimentos de fast-food têm cerca de 30% mais probabilidade de serem obesas e que aquelas que habitam em zonas mais pobres também apresentam maior probabilidade de terem obesidade”, diz Ana Isabel Ribeiro. 

Relativamente às outras características do ambiente residencial, encontrou-se uma tendência. De facto, “as crianças que vivem em zonas mais verdes têm menos probabilidade de serem obesas, assim como as que moram em locais com mais equipamentos desportivos. Contudo, a associação não foi estatisticamente significativa”, menciona.

Para a investigadora, o artigo, publicado na revista “International Journal of Epidemiology”, fornece informação útil a vários níveis. “Ao termos delimitado zonas da Área Metropolitana do Porto com maior prevalência de obesidade, acabamos por facultar informação relevante para quem trabalha nas Unidades de Saúde Pública desses locais. Da mesma forma, a investigação poderá ajudar as autarquias e decisores a definirem as áreas geográficas onde devem concentrar mais esforços para combater a obesidade infantil. Além disso, do ponto de vista etiológico, conseguimos mostrar que a obesidade não é consequência apenas das nossas decisões individuais. Existem aspetos externos que podem potenciar comportamentos menos saudáveis e, possivelmente, conduzir a uma situação de obesidade na infância”.

No trabalho, intitulado Hotspots of childhood obesity in a large metropolitan area: does neighbourhood social and built environment play a part?, participaram também as investigadoras Verónica Vieira e Ana Cristina Santos.

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