Um em cada seis adultos portugueses, com 50 anos de idade ou mais, vive num agregado familiar em que existe insegurança alimentar – conceito que descreve o acesso limitado ou incerto a alimentos nutricionalmente adequados e seguros para a alimentação diária, por motivos económicos.
A conclusão é de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que avaliou a prevalência e os determinantes da insegurança alimentar numa amostra de adultos, que participam na coorte EPIPorto, um estudo de base populacional, do ISPUP, que avalia, há 20 anos, os determinantes de saúde da população adulta residente no Porto.
Segundo Isabel Maia, autora da investigação, “este estudo insere-se no âmbito da minha tese de doutoramento, na qual quero estudar a insegurança alimentar ao longo do ciclo de vida. Neste artigo, em particular, avaliámos a insegurança alimentar em 604 indivíduos, com idades compreendidas entre os 50 e os 90 anos, que eram responsáveis ou corresponsáveis pela aquisição de alimentos para o agregado familiar ou pela confeção dos mesmos”.
Os investigadores analisaram o período entre 2014 e início de 2016, correspondente ao momento de recuperação da crise económica que Portugal atravessou. “Queríamos perceber se, neste período temporal, os adultos de meia idade e idosos, se encontravam em risco de insegurança alimentar”, acrescenta Isabel Maia.
Concluiu-se que um em cada seis adultos vivia num agregado em que existia insegurança alimentar, o que corresponde a uma prevalência de 16,6%.
Os resultados encontrados estão em linha com dados anteriores, provenientes do Inquérito Nacional de Saúde, que, em 2005/2006, avaliou a insegurança alimentar numa amostra de portugueses com mais de 18 anos, e que chegou a uma prevalência de 16,5%.
“Apesar de no nosso estudo, termos restringido a amostra para participantes com 50 anos de idade ou mais, vemos que o valor encontrado no nosso trabalho e no do Inquérito Nacional de Saúde é muito semelhante, o que, em última instância, poderá sugerir que esta população estava a atravessar uma situação de insegurança alimentar semelhante à de 2005/2006”, refere.
As mulheres, os indivíduos menos escolarizados, os que tinham profissões menos qualificadas e os que não eram casados (incluindo os solteiros, divorciados e viúvos) estão em maior risco de insegurança alimentar. Também as pessoas que consideravam ter um rendimento insuficiente são um grupo vulnerável.
Estes resultados “mostram que é necessário apostar em intervenções de saúde pública dirigidas a adultos para melhorar o seu estado de segurança alimentar”, remata.
De sublinhar, que a investigadora é também autora de um estudo, recentemente divulgado, que avaliou a insegurança alimentar em jovens adultos portugueses, tendo concluído que um em cada nove vive num agregado familiar com insegurança alimentar.
O estudo da insegurança alimentar é de grande relevância, porque esta está igualmente associada à obesidade e a outras doenças não transmissíveis, como a diabetes e a hipertensão.
O artigo, publicado na revista “Food and Nutrition Bulletin”, e desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit), designa-se Food Insecurity in Portugal Among Middle- and Older-Aged Adults at a Time of Economic Crisis Recovery: Prevalence and Determinants. Os investigadores Teresa Monjardino, Brenda Frias, Helena Canhão, Jaime Cunha Branco, Raquel Lucas e Ana Cristina Santos também assinam o trabalho.
Imagem: Pixabay/MabelAmber