Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que existem lacunas quanto ao conhecimento que os portugueses têm sobre a obesidade e que um maior conhecimento não se traduz necessariamente num índice de massa corporal (IMC) mais saudável. Os investigadores sublinham a importância dos programas de saúde pública analisarem em que medida existe uma ligação entre conhecimento adquirido e adoção de comportamentos saudáveis.
O trabalho, publicado na revista “Eating and Weight Disorders – Studies on Anorexia, Bulimia and Obesity”, avaliou o conhecimento que os portugueses têm sobre a obesidade, uma condição que representa um fator de risco para o surgimento de outras doenças crónicas como a diabetes mellitus, patologias cardiovasculares e vários tipos de cancro.
“Este artigo recolheu informação sobre diferentes domínios do conhecimento relacionados com a obesidade, procurando ir além das questões mais frequentemente realizadas acerca do tema, e que normalmente se debruçam apenas no exercício físico e na alimentação. Demos, assim, um passo em frente, no sentido em que questionámos os indivíduos sobre outras dimensões da doença que não costumam ser tão exploradas. Recolhemos informação relativa aos conhecimentos sobre a prevalência, a importância da atividade física, o número de calorias, a localização da gordura, as causas, a diagnóstico, o tratamento e as consequências da obesidade”, aponta Ana Henriques, primeira autora do trabalho, coordenado por Susana Silva.
A investigação foi realizada a partir de um questionário aplicado a 1624 indivíduos, com idades compreendidas entre os 16 e os 74 anos, residentes em Portugal Continental. Para além das questões relacionadas com os conhecimentos sobre obesidade, o inquérito recolheu também informação sobre algumas características demográficas (idade, sexo, etc.) dos participantes e sobre o seu IMC.
Verificou-se que a maioria dos portugueses reconhece os benefícios da prática de atividade física, o impacto da falta de exercício na obesidade abdominal e as consequências do excesso de peso, independentemente do IMC que apresentam.
Contudo, foram detetadas algumas lacunas de conhecimento relativamente à prevalência da obesidade, ao número de calorias que devem ser ingeridas diariamente e ao diagnóstico da doença, nomeadamente no cálculo do IMC. Menos de um terço dos participantes conseguiu responder corretamente a estes parâmetros.
Quanto à comparação do conhecimento de acordo com o IMC dos indivíduos, constatou-se que os que apresentam um IMC dentro dos valores normais conhecem melhor como se realiza o seu cálculo e a correspondência entre valores de IMC e respetivas categorias, assim como quantas calorias um adulto saudável deve ingerir diariamente. Já as pessoas com obesidade são as que mais frequentemente identificam de forma correta os produtos naturais e os suplementos como não sendo o tratamento mais adequado para o excesso de peso.
Para Ana Henriques, os resultados da investigação “mostram, em primeiro lugar, que é necessário analisar o conhecimento dos portugueses sobre obesidade a um nível mais profundo, pois existem vários domínios relacionados com esta condição que as pessoas desconhecem e que é necessário explorar. Em segundo lugar, seria igualmente importante perceber até que ponto é que mais disseminação de informação se traduz na adoção de comportamentos saudáveis. Aprofundar a ligação entre informação e ação é crucial para o combate à obesidade”.
O estudo designado “Obesity-related knowledge and body mass índex: a national survey in Portugal” é também assinado pelos investigadores Ana Azevedo, Nuno Lunet, Pedro Moura Ferreira e Isabel Carmo.
A investigação insere-se num projeto mais amplo que avaliou os conhecimentos e os comportamentos sobre saúde dos portugueses em vários domínios – obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e cancro – e que contou com a colaboração do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). Os resultados dos vários trabalhos estão compilados no livro “A Informação sobre saúde dos Portugueses: Fontes, Conhecimentos e Comportamentos”, organizado por Pedro Moura Ferreira, investigador do ICS-UL e Nuno Lunet e Susana Silva, investigadores do ISPUP.