Os indivíduos que estão expostos, desde a infância, a condições socioeconómicas desfavoráveis apresentam uma menor função pulmonar na vida adulta, concluiu um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado em dezembro na revista “Journal of Epidemiology and Community Health”.
A investigação chama a atenção para a importância das condições socioeconómicas, desde idades precoces, no desenvolvimento da função pulmonar.
O estudo tinha como objetivo “avaliar a relação entre as condições socioeconómicas, desde o início da vida, e a função pulmonar na idade adulta, tendo em conta a acumulação de desvantagem socioeconómica e a mobilidade social”, explica Vânia Rocha, primeira autora da investigação, coordenada por Sílvia Fraga.
“Já há estudos que mostram o impacto das desigualdades sociais na função pulmonar. No entanto, este estudo considera a trajetória socioeconómica dos indivíduos, desde a sua infância, e como isso pode influenciar a função pulmonar na idade adulta”, refere.
Para levarem a cabo a investigação, os autores avaliaram 1458 indivíduos, pertencentes à coorte EPIPorto –um estudo de base populacional, conduzido pelo ISPUP, que avalia os determinantes de saúde da população adulta residente no Porto, há cerca de 20 anos.
As condições socioeconómicas foram avaliadas, considerando a profissão do pai dos participantes da coorte e a educação e profissão dos próprios, já em idade adulta. Por sua vez, a função pulmonar foi medida, usando a espirometria (uma prova respiratória que mede o volume de ar que entra e sai dos pulmões).
Concluiu-se que os indivíduos expostos a condições socioeconómicas desfavoráveis, desde a sua infância, apresentavam uma função pulmonar reduzida, quando comparados com indivíduos em condições socioeconómicas mais favoráveis na infância e idade adulta. Adicionalmente, verificou-se que, à medida que o nível de desvantagem socioeconómica aumentava ao longo da vida, a função pulmonar diminuía.
A investigação permitiu ainda mostrar que a mobilidade social ascendente, isto é, uma mudança favorável nas condições socioeconómicas da infância para a idade adulta, não parece ter um impacto significativamente positivo na função pulmonar em adulto. Contudo, nos homens, constatou-se que a mobilidade social descendente, ou seja, a mudança de condições socioeconómicas favoráveis na infância para desfavoráveis na idade adulta, estava associada a uma função pulmonar mais reduzida, sendo este efeito explicado principalmente pelo tabagismo.
Segundo os investigadores, o artigo sugere que “o investimento em políticas e intervenções, no sentido de melhorar as condições socioeconómicas, desde idades precoces da vida, pode ter efeitos positivos na função pulmonar e merece ser mais explorado”.
O estudo, desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP, intitula-se Life-course socioeconomic status and lung function in adulthood: a study in the EPIPorto cohort, e é também assinado pelos investigadores Silvia Stringhini, Ana Henriques, Helena Falcão e Henrique Barros.
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