Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado no The European Journal of Contraception & Reproductive Health Care, alerta para a necessidade de as campanhas públicas de informação e recrutamento de dadores de gâmetas – óvulos e espermatozoides doados para técnicas de Procriação Medicamente Assistida – apostarem em locais de divulgação e canais de comunicação mais diversificados, para que se consiga melhorar o recrutamento e reduzir o estigma associado à conceção por doação de gâmetas.
De acordo com Catarina Samorinha, coautora do trabalho, “o alargamento do acesso a técnicas de Procriação Medicamente Assistida a mulheres solteiras e casais de mulheres, em 2016, levou a um aumento na procura de gâmetas doados no setor público, em Portugal. No nosso país, só existe um Banco Público de Gâmetas, situado no Porto, e há falta de dadores para satisfazer este aumento da procura”.
“Tendo em conta este contexto, investiu-se em campanhas públicas de comunicação sobre doação de gâmetas, com o propósito de aumentar o número de dadores e reduzir o estigma associado à conceção por via de gâmetas doados”, refere.
Considerando a importância de avaliar a implementação destas campanhas e de conhecer as perceções do público-alvo a que se dirigem, a investigação do ISPUP analisou as perspetivas de dadores e de beneficiários relativamente a campanhas públicas de doação de gâmetas. Participaram na investigação 72 dadores e 177 beneficiários, recrutados no Banco Público de Gâmetas (Porto).
O objetivo era recolher informação que orientasse o desenho de campanhas futuras centradas nas pessoas, ou seja, campanhas responsivas e adaptadas às necessidades, preferências e valores dos seus públicos-alvo, aumentando a sua eficácia.
Os resultados mostraram, em primeiro lugar, a necessidade de investir na disseminação das campanhas em locais mais acessíveis e diversificados, que vão para além dos Centros de Saúde, Hospitais e Universidades, identificados como os principais locais onde os participantes tiveram contacto com as campanhas.
Segundo Catarina Samorinha, este investimento permitirá “diversificar o público-alvo das ações de comunicação”. Habitualmente desenhadas para estudantes universitários, as campanhas “devem considerar também outros públicos, como homens casados com filhos; e profissionais de saúde que não são especializados em Medicina da Reprodução, pois o seu envolvimento é crucial na divulgação destas campanhas”, acrescenta.
Adicionalmente, o estudo concluiu que os canais de comunicação através dos quais são divulgadas as campanhas devem ser ajustados aos seus objetivos: reduzir o estigma e melhorar o recrutamento de dadores. A televisão foi o canal mais mencionado e parece ser eficaz na disseminação de conteúdos relacionados com o recrutamento de dadores e na melhoria da consciencialização sobre a doação de gâmetas na população em geral.
A investigação aponta que a partilha de experiências em workshops, com a participação das várias partes envolvidas no processo, em espaços públicos, é fundamental para motivar a solidariedade, aumentar a consciencialização para a doação de gâmetas e reduzir o estigma associado à mesma.
“Os resultados deste trabalho mostram que é importante apostar na disseminação de campanhas por diversos canais de comunicação e que estas devem estar acessíveis em vários contextos, para que se consiga chegar a mais pessoas. Outro aspeto que sobressaiu, através do relato dos participantes, foi a importância de envolver os profissionais de saúde e de usar testemunhos reais nas campanhas de doação de gâmetas. Estes dados poderão ser usados para melhorar a eficácia destas ações de comunicação”, conclui.
A investigação foi conduzida ao abrigo do projeto Engaged – Bionetworking e cidadania na doação de gâmetas, liderado por Susana Silva, investigadora do ISPUP, e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
O trabalho, desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP, designa-se Concerns with educating the public about donating and receiving gametes. As investigadoras Ana Moura, Susana Silva, Cláudia de Freitas, Liliana Abreu e Inês Baía também assinam o estudo.