A menarca (primeira menstruação) das mulheres portuguesas tem vindo a acontecer mais cedo, concluiu um estudo desenvolvido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que avaliou a evolução da idade da primeira menstruação num grupo de mulheres nascidas entre 1920 e 1992. Verificou-se que a idade mediana da menarca passou dos 13 para os 12 anos.
Estudar a evolução da idade da primeira menstruação é importante, porque “há evidência de que uma idade da menarca precoce pode estar associada a problemas de saúde mais tarde na vida”, refere Catarina Queiroga, primeira autora da investigação, coordenada por Henrique Barros.
“Com este estudo, quisemos caracterizar a tendência da idade da menarca, ao longo de várias gerações. Em particular, estávamos interessados em verificar se a idade da menarca está em declínio ou estabilização, tal como evidenciam estudos de outros países Europeus, ou se, pelo contrário, estaria a aumentar”, refere.
A investigação, publicada na revista “American Journal of Human Biology”, usou dados de 11.274 mulheres, nascidas entre 1920 e 1992, pertencentes às coortes Geração XXI, EPITeen e EPIPorto, estudos longitudinais do ISPUP, que têm vindo a acompanhar diferentes grupos populacionais da cidade do Porto (crianças, adolescentes e adultos), ao longo de vários anos. A informação recolhida dizia respeito à idade em que ocorreu a primeira menstruação destas mulheres.
Verificou-se que a mediana da idade da menarca tem vindo a diminuir ao longo dos anos, passando dos 13 anos para os 12, a uma taxa de 31 dias por cada 5 anos.
“Este é o estudo mais recente a caracterizar a idade da primeira menstruação num conjunto elevado de mulheres portuguesas, com diferentes idades. Pretendíamos analisar a evolução da idade da menarca ao longo de várias gerações, para posteriormente desenvolver outros estudos que procurem explicar a tendência encontrada”, nota.
Nesse contexto, os investigadores estão a estudar a relação entre a exposição a situações de adversidade na infância e a idade da primeira menstruação. “Queremos ver se existem fatores de risco inflamatórios que possam influenciar a maturação sexual”, nota.
O projeto DocNet: uma rede para estudar doenças cardiovasculares e oncológicas
A investigação agora publicada insere-se no projeto DOCnet (Diabetes & obesity at the crossroads between Oncological and Cardiovascular diseases – a system analysis NETwork towards precision medicine), do qual o ISPUP é parceiro. O projeto visa desenvolver uma rede tecnológica integradora que ajude a esclarecer o papel da obesidade e da diabetes mellitus no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e oncológicas.
O estudo, designado Secular trend in age at menarche in women in Portugal born between 1920 and 1992: Results from three populationbased studies, foi desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP. Os investigadores Rita Silva, Ana Cristina Santos e Isabel Maia também participaram no artigo.
Imagem: Pixabay/manseok