O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) participou num estudo internacional que ajudou a reconhecer um novo padrão de comportamento de quem vivencia um afogamento.
As dificuldades dentro de água, o desaparecimento imediato e a realização de movimentos semelhantes ao de subir um escadote, ou de movimentos circulares para trás com os braços estendidos na lateral, são alguns dos comportamentos típicos de quem está a afogar-se.
A investigação, que pretende auxiliar nadadores-salvadores, profissionais de salvamento aquático e a indústria de equipamentos de deteção precoce de afogamento em piscinas, concluiu que há, no máximo, uma janela temporal de 2 minutos para identificar e reconhecer uma pessoa em processo de afogamento. Após esse período, o indivíduo já estará submerso e inconsciente. O tempo de ação é, assim, muito curto.
O estudo, publicado na revista International Journal of Environmental Research and Public Health, surgiu devido à necessidade de compreender melhor o modo como se comporta uma pessoa que está em processo de afogamento, termo usado, neste contexto, para descrever a situação de quem está em dificuldade respiratória por imersão ou submersão na água.
“Existe pouca investigação nesta área. Todos os anos cerca de 300 mil indivíduos morrem vítimas de afogamento e mais de 1 milhão sobrevive a um afogamento, em todo o mundo, mas poucos estudos exploram o comportamento visível de quem se está a afogar. Compreender esta dimensão é importante porque ajudará os profissionais de salvamento aquático a reconhecerem um evento de afogamento e a responderem o mais precocemente possível para salvarem vidas”, refere Catarina Queiroga, investigadora do ISPUP, envolvida no estudo.
Com esse propósito em mente, uma equipa de 20 especialistas internacionais na área do salvamento aquático, entre os quais se encontra a investigadora do ISPUP, analisaram o comportamento de um conjunto de indivíduos em processo de afogamento, através da visualização de vídeos de afogamentos. As imagens analisadas, captadas sobretudo mediante sistemas de videovigilância, câmaras de segurança e de circuito fechado, diziam essencialmente respeito a episódios em piscinas privadas ou públicas em espaços exteriores, e alguns em águas abertas.
A importância da identificação precoce do afogado
Nos 23 vídeos analisados pela equipa de especialistas, 24 pessoas vivenciaram um processo de afogamento e 5 perderam a consciência. A maioria dos vídeos retratava afogamento em crianças ou adolescentes e as piscinas exteriores foram os locais com o maior número de ocorrências.
O estudo encontrou, entre 9 dos afogados, alguns comportamentos já descritos anteriormente na literatura, designados tecnicamente por “resposta instintiva ao afogamento” (do Inglês Instinctive Drowning Response), e que incluem um conjunto de características negativas como a incapacidade de chamar por ajuda e de acenar, a impossibilidade de controlar voluntariamente os movimentos dos braços e a incapacidade de realizar movimentos na horizontal ou diagonal.
Foram também observadas características positivas como a realização de movimentos involuntários, mas controlados, de extensão dos braços, e de pressão na superfície da água, num movimento vertical que se assemelha ao de subir um escadote.
Surpreendentemente, notou-se, em 19 das 24 pessoas afogadas, um novo padrão comportamental ainda não descrito em estudos anteriores, que corresponde a fazer movimentos circulares para trás com os braços estendidos lateralmente, numa tentativa de manter a cabeça fora de água (que os especialistas designaram de “backwards water milling”).
As observações dos investigadores sugerem que existe, no máximo, uma janela temporal de 2 minutos, para identificar e reconhecer uma pessoa em processo de afogamento. Após esse período, o indivíduo já estará submerso e inconsciente.
Como explica Catarina Queiroga, “este intervalo de tempo é o limite máximo para se dar o reconhecimento de um afogado e iniciar as ações que visem interromper o processo de afogamento e minimizar o impacto da entrada de água nas vias aéreas e consequente hipoxia, correspondendo, de grosso modo, ao período de tempo em que a pessoa ainda se encontra consciente”.
É importante reforçar a ideia de que, ao contrário daquilo que é frequentemente reproduzido pelos média, as pessoas que vivenciam o afogamento não acenam nem gritam por ajuda. O afogamento é rápido e silencioso.
Necessidade de estudos futuros
De acordo com a investigadora do ISPUP, o artigo publicado auxiliará nadadores-salvadores, profissionais de salvamento aquático e investigadores a identificar alguém que esteja numa situação de afogamento e a compreender a importância de estar atento a estes comportamentos para salvar vidas, quando a prevenção do incidente falhou.
“Dado que este artigo mostrou que o comportamento visível de uma pessoa em afogamento pode apresentar muitas variações e existem muitos aspetos que são ainda desconhecidos, é necessário aprofundar o conhecimento nesta área através da realização de mais estudos observacionais”, remata.
A investigação designada The Visible Behaviour of Drowning Persons: A Pilot Observational Study Using Analytic Software and a Nominal Group Technique encontra-se disponível AQUI e foi assinada pelo grupo de trabalho internacional composto por especialistas de vários países, dedicados a estudar este tema.
Imagem: Unsplash/Lavi Perchik