As crianças que frequentam escolas com maior proximidade a áreas construídas e com menos espaços verdes, apresentam um maior risco de desenvolverem obesidade, concluiu um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado na revista European Journal of Pediatrics.
O resultado explica-se, por um lado, pelo facto de estas crianças estudarem em escolas cujos espaços exteriores não favorecem a prática de atividade física, e, por outro, de estarem mais expostas a poluentes resultantes do tráfego automóvel, que podem estar associados a um aumento da resistência à leptina, que se associa ao desenvolvimento de obesidade.
“Sabemos que os fatores ambientais desempenham um importante papel nos comportamentos individuais e, consequentemente, na regulação do peso. Dado que as crianças passam grande parte do seu tempo nos recintos escolares, quisemos perceber como é que o ambiente onde a escola se insere influencia a saúde da criança, nomeadamente o seu peso”, refere Inês Paciência, primeira autora do estudo, coordenado pelos investigadores André Moreira e Pedro Moreira.
845 crianças e 20 escolas do Município do Porto avaliadas
Para conduzirem o estudo, os investigadores analisaram os espaços que se localizavam a uma distância de 500 metros das escolas, tendo considerado o número de áreas verdes e de espaços contruídos no entorno das mesmas.
Paralelamente, avaliaram a composição corporal, o peso e a altura de 845 crianças, que se encontravam a frequentar os 3º e 4º anos do ensino primário, de 20 escolas do Município do Porto.
A associação entre áreas mais construídas e risco de obesidade
Observou-se que as crianças que frequentam escolas mais próximas a áreas construídas e com menor presença de espaços verdes, apresentam um índice de massa corporal superior àquelas que estudam em estabelecimentos de ensino mais próximos a áreas verdes e menos construídas.
Como se explica esta associação? “Por um lado, os espaços mais construídos e com menos áreas verdes oferecem menos oportunidades para que os alunos pratiquem atividade física nos espaços exteriores das escolas. E nós sabemos que a prática de exercício físico é fundamental para prevenir a obesidade e o excesso de peso”, diz a investigadora do ISPUP.
“Por outro lado, as áreas mais urbanizadas apresentam maiores níveis de poluentes, nomeadamente, de matéria particulada, que podem exercer um efeito no metabolismo das crianças. Estes poluentes podem estar associados a um aumento da resistência à leptina, que está associada ao aumento do risco de obesidade”, acrescenta.
Políticas promotoras de espaços verdes ao redor das escolas
Tendo em conta os resultados do estudo, Inês Paciência considera fundamental que se definam políticas que visem a criação de espaços verdes ao redor das escolas.
“Os espaços verdes estão associados a estilos de vida mais saudáveis, à prática de exercício físico, à diminuição do stress e a uma melhor saúde. Além do mais, potenciam as caminhadas, pelo que podem ser aproveitados pelas crianças para se deslocarem a pé para a escola”, remata.
A investigação designa-se A cross-sectional study of the impact of school neighbourhood on children obesity and body composition e encontra-se disponível AQUI. Participaram também no artigo os investigadores João Rufo, Francisca Mendes, Mariana Farraia, Pedro Cunha, Diana Silva, Luís Delgado e Patrícia Padrão.
Imagem: Unsplash/MChe Lee