Cerca de dois terços das mulheres que foram diagnosticadas com cancro da mama e que na altura do diagnóstico se encontravam a trabalhar, mantiveram o seu emprego nos cinco anos seguintes ao diagnóstico da doença. A conclusão é de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado na revista “The Breast”.
O trabalho foi desenvolvido no âmbito da coorte NEON-BC, um estudo longitudinal do ISPUP que acompanha, desde 2012, cerca de 500 doentes com cancro da mama, propostas para tratamento cirúrgico no Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto).
O objetivo era perceber se “as doentes que trabalhavam antes do diagnóstico da doença se mantiveram empregadas até cinco anos, após o diagnóstico do cancro”, refere Samantha Morais, uma das investigadoras envolvidas no artigo, coordenado por Nuno Lunet. Além disso, “também procurámos entender se existiam características sociodemográficas, clínicas e de tratamento que poderiam influenciar a situação profissional destas mulheres”.
Incluíram-se neste estudo 242 mulheres da coorte, que estavam empregadas antes do diagnóstico do cancro da mama.
Verificou-se que 162 continuaram a trabalhar, 26 ficaram desempregadas, 27 pediram reforma antecipada, 14 entraram para a reforma e 13 estavam de baixa médica, cinco anos após o diagnóstico do cancro da mama.
As mulheres mais velhas e com menor escolaridade tinham uma maior probabilidade de ficarem desempregadas e de pedirem reforma antecipada do que as que eram mais novas e tinham mais anos de escolaridade.
No que diz respeito aos tratamentos, observou-se que havia uma maior probabilidade de desemprego, cinco anos após o diagnóstico, nas mulheres submetidas a esvaziamento axilar. “Isto pode ser devido à diminuição da mobilidade e da sensibilidade frequentemente reportadas após o esvaziamento axilar, o que poderá levar a maior incapacidade nestas mulheres, quando comparadas com as que são submetidas a biópsia do gânglio sentinela”, explica Samantha Morais.
A investigação mostrou igualmente que as mulheres da amostra analisada apresentaram uma menor incidência de desemprego face à população portuguesa em geral. “Tal poderá ser explicado pelo facto de várias mulheres terem ficado de baixa médica. Além do mais, entre as que tinham entre 55 e 65 anos, verificou-se uma maior probabilidade de pedirem reforma antecipada”, diz a investigadora.
“Este estudo traz uma mensagem positiva, porque se verificou que entre as 242 mulheres diagnosticadas com cancro da mama, 162 continuaram a trabalhar, nos cinco anos após o diagnóstico”, refere. “Apesar de nem todas as mulheres desejarem regressar à vida profissional, após a doença, é importante que aquelas que o desejem fazer beneficiem de suporte social para o efeito. Chamamos, por isso, a atenção para a importância de se promoverem intervenções políticas e legislativas, no sentido de se aumentar, por exemplo, a flexibilidade horária e a adaptação da função laboral à condição atual da mulher”, remata.
O estudo, intitulado Changes in employment status up to 5 years after breast cancer diagnosis: A prospective cohort study, é também assinado pelos investigadores Isabel Monteiro, Ana Rute Costa, Luisa Lopes-Conceição, Natália Araújo, Filipa Fontes, Teresa Dias e Susana Pereira.