Um estudo internacional, publicado recentemente na PLOS (Public Library of Science) Medicine, investigou a associação entre a idade gestacional (tempo de gravidez) com o Índice de Massa Corporal (IMC) do indivíduo, desde a infância até à adolescência. O estudo concluiu que a idade gestacional pode ser um fator determinante no IMC durante a infância, mas que os seus efeitos se atenuam na adolescência.
Para este trabalho foram utilizados dados de mais de 250 mil indivíduos, de 16 coortes de nascimento, de 11 países da Europa, da América do Norte e da Australásia e incluiu dados recolhidos no âmbito da Coorte Geração 21, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).
Globalmente, um em cada dez bebés nasce prematuro (antes das 37 semanas completas de gestação) e, em Portugal, essa taxa ronda os 7-8%. Importa dizer que a prematuridade é a principal causa de morbilidade e mortalidade perinatal e que tem sido associada a um maior risco de desenvolver problemas de saúde, que podem surgir e persistir ao longo da vida.
A maioria dos estudos anteriores sobre este tema focou-se no peso do bebé ao nascer, estudando o seu impacto no desenvolvimento da criança. Este estudo vem diferenciar-se dos demais por se focar não no peso do bebé, mas na duração da gravidez e na sua influência no crescimento da criança, desde a infância até à adolescência. O seu objetivo principal foi, por isso, perceber qual a relação que tem o tempo de gravidez com o índice de massa corporal da criança e o risco de vir a desenvolver excesso de peso e obesidade.
Concluiu-se que as crianças que nasceram prematuras apresentavam um IMC mais baixo na infância e também um menor risco de desenvolver excesso de peso, em comparação com os seus pares, nascidos a termo. Não obstante, verificou-se também que estas diferenças se foram atenuando com a idade. “Estes resultados são, de certa forma, tranquilizadores, sugerindo que, apesar de nascerem cedo, os bebés prematuros atingem, em média, o tamanho corporal dos seus pares antes da idade adulta”, afirma Susana Santos, investigadora doutorada que atualmente coordena a coorte Geração 21, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
Contudo, à semelhança do que já havia acontecido sido observado em estudos prévios, também neste caso os resultados sugeriram um risco aumentado de excesso de peso e obesidade na adolescência em indivíduos que nasceram muito prematuros.
É importante, por fim, deixar a salvaguarda de que as condições e exposições no início da vida, por exemplo, o peso ao nascer, a presença de malformações congénitas e a amamentação podem influenciar a associação entre a idade gestacional e o crescimento físico de que aqui falamos.
Em suma, é seguro afirmar que este estudo aumenta o nosso conhecimento sobre os fatores que influenciam o índice de massa corporal e o risco de vir a desenvolver excesso de peso e obesidade. No entanto, importa também referir que todas as conclusões apresentadas se basearam somente em dados recolhidos em países de elevado rendimento e, por isso, as suas conclusões não podem ser generalizadas para países de médio e baixo rendimento.