Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que os profissionais de saúde afetados por lesões de esforço por acidente de trabalho – lesões que decorrem, por exemplo, do esforço de mobilizar doentes dependentes – têm maior probabilidade de se ausentarem da sua ocupação por um período de tempo mais prolongado.
Ao contrário do que era esperado, a investigação mostrou que as lesões de esforço superam os traumas diretos (que resultam por exemplo de quedas ou de embates diretos do corpo contra equipamentos), em termos de impacto na saúde dos trabalhadores e na duração do número de dias de absentismo laboral.
O estudo, publicado na revista “PLOS ONE”, pretendeu caracterizar melhor o diagnóstico de lesão resultante de acidente de trabalho em profissionais de saúde e perceber qual o seu impacto no absentismo laboral.
Os investigadores caracterizaram 824 casos de lesão musculosquelética por acidente de trabalho, ocorridos no Centro Hospitalar de São João (CHSJ), durante o período de janeiro de 2011 a dezembro de 2014.
Verificou-se que os diagnósticos de lesão mais frequentes foram os traumas diretos dos membros inferiores e superiores e a lesão por esforço da coluna vertebral. “Destes três grupos de diagnóstico, o que se associou a um maior período de absentismo laboral foi o corresponde às lesões por esforço da coluna vertebral”, refere João Amaro, primeiro autor do estudo, coordenado por Pedro Norton.
“Constatámos que havia uma elevada incidência de lesões de esforço entre os profissionais de saúde. Este tipo de lesões resultam, por exemplo, do posicionamento de doentes dependentes em camas e da aplicação de cuidados de higiene, e afetam particularmente a coluna lombar, a coluna cervical e os ombros. Trata-se do grupo de diagnóstico responsável por um período de ausência ao trabalho mais prolongado”, diz o investigador.
Observou-se que “as lesões por esforço da coluna vertebral estão associadas a um risco cinco vezes maior de absentismo laboral por um período superior a 20 dias, algo que não esperávamos”, sublinha.
O estudo verificou também que os profissionais de saúde mais suscetíveis ao desenvolvimento de lesão por esforço são mulheres em idades mais jovens (até aos 35 anos). Infelizmente este tipo de lesões são frequentemente subtratadas e pouco acompanhadas na fase aguda.
Para João Amaro, os resultados do trabalho realçam que “as lesões de esforço devem ser seriamente tidas em conta nos esforços de prevenção de sinistralidade laboral, dado o impacto negativo que têm na saúde dos funcionários e nos períodos elevados de ausência ao trabalho”.
A investigação designada Musculoskeletal injuries and absenteeism among healthcare professionals—ICD-10 characterization é também assinada pelos investigadores João Magalhães (USF Espaço Saúde do ACeS Porto Ocidental), Margarida Leite (USF Brás Oleiros, do ACeS Porto Ocidental), Beatriz Aguiar (USF Brás Oleiros, do ACeS Porto Ocidental), Paula Ponte (USF Prelada, ACeS Porto Ocidental) e por Joana Barrocas (USF Maresia, da ULS Matosinhos).
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