ISPUP; REQUIMTE - REDE DE QUIMICA E DE TECNOLOGIA; UNIVERSIDADE DO PORTO;
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que cerca de 10-15% da população mundial em idade reprodutiva é infértil. O plano de ação europeu em matéria de saúde sexual e reprodutiva visa acelerar os progressos na área, em conformidade com o quadro europeu de saúde e bem-estar. Embora a infertilidade seja um componente crítico da saúde reprodutiva, tem sido negligenciada nesses progressos.
Há evidências crescentes de que a qualidade do ovócito afeta a fertilização e o subsequente estabelecimento da gravidez. Os níveis séricos de estradiol e o tamanho do folículo são parâmetros de rotina utilizados na monitorização do desenvolvimento folicular e maturação do ovócito, enquanto a avaliação morfológica é a abordagem mais frequentemente utilizada para avaliar a qualidade do ovócito. No entanto, embora simples e rápidos, esses métodos são muito falíveis.
O líquido folicular compõe o microambiente do ovócito antes da ovulação e contribui para o desenvolvimento dos gâmetas femininos. É rico em metabolitos de baixo peso molecular que são reguladores diretos ou indiretos do stress oxidativo e da produção de antioxidantes. Baixas concentrações de espécies reativas de oxigénio (ROS) intrafolicular são consideradas um marcador promissor para prever o sucesso da fertilização in vitro. Por outro lado, a inflamação é uma complexa rede de sinalização bioquímica que pode perturbar a maturação do ovócito e foliculogénese, influenciando assim a qualidade ovocitária. De facto, está bem estabelecido que a ovulação envolve um ambiente pro-inflamatório que se altera, requerendo por isso complexos mecanismos de contra regulação da resposta inflamatória.
É premente encontrar novos mediadores que permitam otimizar todo o processo de seleção dos ovócitos, centrando-se principalmente nos componentes do líquido folicular dada a sua facilidade de recolha. No entanto, nenhuma das moléculas identificadas neste líquido permitiu ainda resultados consistentes e fiáveis na avaliação da qualidade ovócitária. Assim, pretende-se estudar a inter-relação entre a inflamação e o stress oxidativo na qualidade do ovócito e identificar marcadores preditivos da qualidade ovocitária e do sucesso da fertilização. Além disso, este projeto visa estudar distúrbios associados à subfertilidade, nomeadamente endometriose, obesidade e PCOS, ou seja, estudar alterações nos processos inflamatórios e/ou de stress oxidativo na dinâmica folicular, avaliando a sua relação com a qualidade do ovócito e infertilidade. Após identificação e validação dos biomarcadores, espera-se que esta abordagem revolucione a seleção de ovócitos e embriões, levando à melhoria das taxas de implantação e maiores probabilidades de sucesso permitindo uma transferência eletiva do embrião.