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<p class=”MsoNormal”>É reconhecido o elevado peso das fracturas
osteporóticas na população adulta. No entanto, a abordagem actual à etiologia
da fragilidade óssea parte da premissa de que existe um importante grau de
conservação das propriedades ósseas ao longo do ciclo de vida. Desta forma,
pensa-se que a probabilidade de fractura na vida adulta pode ser parcialmente
prevista se se conhecer o pico de qualidade óssea atingido durante as primeiras
décadas de vida. Neste contexto, os factores modificáveis que influenciam as
propriedades ósseas são vistos como moduladores do atingimento desse pico. Os
determinantes antropométricos da saúde óssea assumem particular importância,
tendo em consideração as tendências recentes da frequência de excesso de peso e
obesidade em muitas populações.
Presentemente, não é claramente compreendida a importância das variações
antropométricas prospectivas, observadas desde o nascimento, na qualidade óssea
durante a infância. Em particular, não sabemos se as variações longitudinais da
corpulência acrescentam informação relevante na predição das propriedades
ósseas, para além da antropometria medida de forma transversal.
Através da utilização de dados prospectivos recolhidos numa subamostra de uma
coorte de nascimentos avaliada ao nascimento, aos 4 anos de idade e aos 8 anos,
os objectivos principais são:
a)Quantificar, aos 8 anos de idade, as associações transversais entre o tamanho
e a composição corporais e diferentes dimensões da qualidade óssea:
propriedades físicas, maturidade e metabolismo ósseos;
b)Compreender se as variações antropométricas longitudinais acrescentam
informação útil na predição das propriedades ósseas aos 8 anos de idade, para
além da antropometria na mesma idade.
Para atingir estes objectivos, usar-se-ão dados de uma subamostra da coorte
Geração XXI, uma coorte de nascimentos de base populacional estabelecida em 5
maternidades de nível III da área metropolitana do Porto entre abril de 2005 e
agosto de 2006. No total, 8647 crianças e as respectivas mães foram recrutadas
para o estudo. Aos quatro anos de idade, foi possível reavaliar 86% das
crianças inicialmente recrutadas. Neste projecto usaremos uma grande quantidade
de dados recolhidos nas avaliações anteriores, respeitantes ao nascimento (peso
ao nascimento e índice ponderal) e aos 4 anos de idade (peso, índice de massa
corporal e índice ponderal). Para o projecto presente, recolheremos informação
adicional aos 8 anos de idade para uma amostra de 400 crianças (no âmbito do
seguimento da coorte), que compreende 200 rapazes e 200 raparigas. Além dos
dados antropométricos, este projecto incluirá especificamente dados sobre três
dimensões da qualidade e dinâmica ósseas.
As propriedades físicas ósseas serão estimadas através dos seguintes
parâmetros, obtidos por absorciometria de raios-X de dupla energia (DXA) de
corpo inteiro: densidade mineral óssea, conteúdo mineral ósseo e área óssea. O
grau de maturação óssea será avaliado aplicando o método de Greulich and Pyle à
imagem densitométrica da região mão-punho não dominante. A velocidade do
metabolismo ósseo será estimada através das concentrações séricas do
propeptídeo N do procolagéneo tipo I (PINP) e da porção C-terminal do
telopeptideo do colagénio tipo I, como marcadores da formação e reabsorção
ósseas, respectivamente.
A partir desta informação usaremos as seguintes abordagens analíticas:
1. Quantificar as associações transversais entre a corpulência (altura, peso e
índice de massa corporal) e a composição corporal (massa gorda e massa livre de
gordura) aos 8 anos e:
1.1. as propriedades físicas ósseas aos 8 anos (densidade mineral óssea,
conteúdo mineral ósseo e área óssea)
1.2. a idade óssea aos 8 anos
1.3. as concentrações séricas dos produtos da síntese e degradação do colagéneo
(marcadores PINP e CTX)
2. Usar “path analysis” para quantificar a magnitude relativa das
associações entre os parâmetros da qualidade óssea aos 8 anos e
2.1. antropometria ao nascimento
2.2. antropometria aos 4 anos
2.3. antropometria aos 8 anos
3. Especificamente com o objectivo de compreender se a redução de peso poderá
ter um efeito detectável na qualidade óssea, iremos comparar as propriedades
ósseas aos 8 anos entre:
3.1. crianças que permaneceram com peso normal durante todo o período de
seguimento
3.2. crianças que se encontravam nos quantis superiores do tamanho corporal ao
nascimento ou aos 4 anos mas cujo índice de massa corporal desceu para um valor
saudável aos 8 anos
O conhecimento do impacto destas variações longitudinais, e em particular o
resultado da perda de peso numa fase precoce da vida, será relevante para
compreender o possível papel de intervenções dirigidas à perda de peso no
desenvolvimento da resistência óssea. Numa perspectiva metodológica, será
possível esclarecer se existe benefício numa abordagem longitudinal relativamente
a uma perspectiva transversal, no que diz respeito ao desenvolvimento da
qualidade óssea ao longo da vida.</p>