Um em cada nove jovens adultos portugueses vive num agregado familiar em que existe insegurança alimentar – conceito que descreve o acesso limitado ou incerto a alimentos nutricionalmente adequados e seguros para a alimentação diária, por motivos económicos. O resultado é de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado na revista “International Journal of Public Health”.
A investigação avaliou a prevalência e os determinantes de insegurança alimentar numa amostra de jovens adultos portugueses (954 indivíduos), com 26 anos de idade, pertencentes à coorte EPITeen – estudo longitudinal que tem vindo a avaliar, desde 2003, vários determinantes de saúde de adolescentes do Porto, nascidos em 1990.
“Avaliámos a insegurança alimentar nestes jovens adultos, no ano de 2016, altura marcada pela recuperação da crise económica que o país atravessou nos anos anteriores e durante os quais esteve sob medidas de austeridade. Escolhemos esta faixa etária, porque sabemos que os jovens têm hoje em dia empregos mais precários e menor proteção social. Queríamos perceber quão suscetíveis eram à insegurança alimentar”, explica Isabel Maia, primeira autora do estudo, coordenado por Ana Cristina Santos.
Os investigadores verificaram que, mesmo durante um período de recuperação económica, 11% dos jovens adultos vivia num agregado familiar com insegurança alimentar. Para Isabel Maia, “trata-se de um número considerável e que está também em linha com resultados de estudos realizados em outros países europeus, como a França e a Dinamarca”.
Para além do cálculo da prevalência de insegurança alimentar nesta população, o estudo mostrou também que os indivíduos que têm menor escolaridade e profissões menos qualificadas estão em maior risco de insegurança alimentar, independentemente de outros fatores. Analisando o rendimento do agregado familiar, viu-se que os jovens adultos que consideravam ter um rendimento insuficiente se encontravam em maior risco. Além disso, os que tinham já constituído família própria apresentavam maior risco de insegurança alimentar em comparação com aqueles que ainda viviam com os pais.
“Este estudo contribui com evidência para caracterizar os jovens adultos que se encontram em maior risco de insegurança alimentar. Identificámos os menos escolarizados, os que têm profissões menos qualificadas, aqueles com rendimentos insuficientes e os que já constituíram família própria”, refere.
Os investigadores consideram ser importante criar medidas de saúde pública de apoio a esta população, para melhoria da sua segurança alimentar, de forma a que as pessoas não deixem de suprir as suas necessidades alimentares básicas por falta de rendimento.
O estudo desta área assume particular relevo, porque a insegurança alimentar está igualmente associada à obesidade e a outras doenças não comunicáveis, como a diabetes e a hipertensão.
O artigo, desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP, designa-se Household food insecurity and socio-demographic determinants in young adults: findings from a Portuguese population-based sample.
As investigadoras Teresa Monjardino, Raquel Lucas e Elisabete Ramos também assinam o trabalho.
Imagem: Pixabay/RitaE