Um estudo desenvolvido por investigadores da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que avaliou a prevalência de défice cognitivo e de demência numa amostra da população portuguesa, apurou que a principal causa de demência em Portugal estará relacionada com fatores vasculares (demência vascular) e não com doença de Alzheimer, ao contrário do que acontece na maior parte dos países da Europa Ocidental. A mensagem positiva é que a demência vascular pode ser evitada pela modificação dos estilos de vida.
Dado o crescente envelhecimento da população, o défice cognitivo e a demência são cada vez mais frequentes em todo o mundo, afetando a qualidade de vida de milhões de doentes e das suas famílias. Perceber quais as principais causas e de que forma se pode prevenir o declínio cognitivo é por isso importante, para se alcançar ganhos em saúde.
Em Portugal, o único estudo epidemiológico a avaliar o declínio cognitivo e a demência na população portuguesa data de 2003 e aponta para uma prevalência de 2.7% da doença em indivíduos com idades compreendidas entre os 55 e os 79 anos.
O presente estudo, que vem aprofundar o anterior, avaliou a prevalência de défice cognitivo e de demência numa amostra de 730 indivíduos da coorte EPIPorto (um estudo de base populacional, que avalia, há 18 anos, os determinantes de saúde da população adulta residente no Porto) e tentou identificar as suas causas mais frequentes.
Os resultados mostram que cerca de 4.5% dos indivíduos com mais de 55 anos apresentam demência ou défice cognitivo ligeiro.
A investigação viu ainda que o tipo de demência mais prevalente em Portugal é a demência vascular e não o Alzheimer, contrariando assim a tendência verificada na maior parte dos países ocidentais.
A principal explicação para estas diferenças resulta da elevada incidência de casos de acidente vascular cerebral (AVC) em Portugal, em comparação com outros países, o que pode explicar a prevalência da demência vascular no nosso país. De facto, pelos danos que provoca no cérebro, o AVC é um fator de risco para o desenvolvimento deste tipo de demência.
Adicionalmente, a razão para esta diferença pode residir no facto de “Portugal ser o país da Europa com maior consumo de peixe, particularmente peixe gordo, o qual parece estar associado a menor risco de demência e de Alzheimer”, refere Luís Ruano, primeiro autor do estudo. Outra explicação poderá passar pela “menor prevalência entre a população portuguesa do alelo ε4 do gene APOE, o fator genético de risco mais comum para a doença de alzheimer”, acrescenta.
A investigação publicada na revista American Journal of Alzheimer’s Disease & Other Dementias® “acarreta uma importante mensagem de saúde pública relativamente à epidemiologia da demência em Portugal e revela um elevado potencial para a prevenção e gestão da demência vascular”, diz Luís Ruano.
Este tipo de demência pode ser prevenido, pelo que há que apostar, por exemplo, em medidas de prevenção primárias, como “a prática de uma dieta saudável, de exercício físico regular e o controlo dos principais fatores de risco cardiovasculares”. Tais recomendações poderão ajudar a diminuir o fardo dos pacientes, das famílias e da sociedade.
O estudo designado Prevalence and Causes of Cognitive Impairment and Dementia in a Population-Based Cohort From Northern Portugal é também assinado por Henrique Barros, Natália Araújo, Mariana Branco, Rui Barreto, Sandra Moreira, Ricardo Pais, Vítor Tedim Cruz e Nuno Lunet.
O Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto estão também envolvidos na investigação.
Imagem: Pixabay/geralt