As crianças cujas mães tinham excesso de peso ou obesidade, antes do início da gravidez, estão em maior risco de desenvolverem esta condição ao longo da infância. A conclusão é de um estudo, publicado na revista “PLOS Medicine”, que contou com a participação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).
O trabalho, liderado pela Erasmus University Medical Center, em Roterdão, analisou cerca de 162 mil mães, pertencentes a 37 coortes de nascimento da Europa, América do Norte e Austrália. Portugal participou no trabalho com dados da coorte Geração XXI.
O estudo analisou o impacto da gordura corporal da mãe – tanto o índice de massa corporal antes do início da gravidez como o peso ganho durante a gestação – no desenvolvimento de obesidade na criança.
Verificou-se que “apesar de o peso adquirido durante a gravidez ter um impacto no peso da criança, este impacto é muito menor quando comparado com o índice de massa corporal materno antes da gestação”, explica Ana Cristina Santos, uma das investigadoras do ISPUP envolvidas no estudo.
Os investigadores mostraram que a associação entre a adiposidade da mãe antes da gravidez e o desenvolvimento de obesidade na criança vai aumentando com o decorrer da infância, sendo mais forte a partir dos 10 anos de idade. Na adolescência consegue ver-se este impacto de uma forma mais evidente.
Para Ana Cristina Santos, o estudo “vem sublinhar a importância do período pré-gravidez para um dos principais problemas de saúde da infância – a obesidade infantil – reforçando que a aposta na prevenção deve acontecer antes de a mulher engravidar”.
A investigação calculou também qual era a proporção de casos de obesidade na infância que eram atribuíveis ao facto de a mãe ter excesso de peso ou obesidade e verificou-se que entre 22 a 42% dos casos de excesso de peso e obesidade infantil eram atribuíveis ao excesso de peso e à obesidade materna.
“Estes resultados são relevantes, porque a mulher que engravida com obesidade aumenta o risco de obesidade no seu filho. E a obesidade é um fator de risco que é potencialmente modificável, pelo que importa apostar na sua prevenção”, conclui.
O consórcio internacional de investigadores que deu origem ao presente artigo publicou também recentemente um estudo na revista Journal of the American Medical Association (JAMA) que mostrou que a obesidade ou excesso de peso antes da gravidez acarreta maiores ricos para a saúde da mãe e da criança durante a gravidez. Entre as várias complicações destacam-se a diabetes e a hipertensão gestacional, a pré-eclampsia (tensão arterial alta e inchaço das pernas), cesarianas e nascimentos prematuros.
Segundo Ana Cristina Santos, “ambos os estudos vêm reforçar a importância do peso da mãe antes do início da gestação. Se no artigo da JAMA se via o impacto da obesidade da mãe até ao momento do nascimento da criança, neste último, da PLOS Medicine, constata-se o seu impacto ao longo da infância dos filhos”.
O artigo publicado na revista “PLOS Medicine” designa-se Maternal body mass index, gestational weight gain, and the risk of overweight and obesity across childhood: An individual participant data meta-analysis.
Imagem:Pixabay/Fotorech