As crianças que nascem com um peso mais alto à nascença têm em média um peso mais elevado aos 7 anos de idade, apresentando um maior risco cardiovascular. A conclusão é de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado na revista International Journal of Obesity.
“Exposições adversas, quando ocorrem em determinados períodos críticos no início da vida, podem levar a um maior risco cardiometabólico em idades precoces e, mais tarde, na vida adulta. Nesta lógica, sabemos que o peso à nascença é um grande determinante de complicações cardiometabólicas no futuro”, diz Maria João Fonseca, primeira autora do estudo, coordenado pela investigadora Ana Cristina Santos.
“A literatura descreve dois mecanismos, pelos quais o peso à nascença pode levar a um maior risco cardiovascular”, adianta. Por um lado, existe o chamado efeito “tracking”, que se refere à estabilização do peso ao longo do tempo. “Segundo este modelo, as crianças que nascem com um peso mais elevado tendem a manter um índice de massa corporal (IMC) alto durante a infância e também maior adiposidade ao longo da vida, o que se traduz num maior risco cardiovascular”, refere.
Já um outro mecanismo, o da “programação”, defende que o organismo da criança com um baixo peso ao nascimento não está tão bem adaptado para enfrentar a vida extrauterina, nomeadamente o ambiente obesogénico em que vivemos, tendo por isso um maior riscocardiovascular.
Tendo em conta estes dois mecanismos contraditórios, a investigação do ISPUP pretendeu entender por que vias o peso à nascença influencia o risco cardiovascular mais tarde, usando, para tal, uma amostra de 4881 crianças da Geração XXI – um estudo longitudinal que segue, desde 2005, 8600 participantes que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto.
Os investigadores analisaram o peso à nascença, através dos registos clínicos, obtidos através dos hospitais, no momento do nascimento das crianças, e mediram os indicadores de risco cardiometabólicos (pressão arterial sistólica e diastólica, colesterol LDL, glicose e triglicerídeos) e o IMC destes participantes quando tinham 4 e 7 anos.
Concluiu-se que as crianças que nascem com um peso mais alto, apresentam um IMC mais elevado aos 7 anos, e, consequentemente, têm piores indicadores cardiometabólicos. Viu-se igualmente que os participantes que tinham um peso mais baixo à nascença apresentavam pressão arterial mais alta, tendo sido este o único indicador cardiometabólico alterado diretamente via baixo peso ao nascimento.
De acordo com Maria João Fonseca, “este artigo mostra que tanto o peso à nascença, como o IMC da criança durante a infância, são importantes para o risco cardiometabólico no futuro. Conseguimos mostrar que um peso mais elevado parece estar associado com alterações cardiometabólicas já aos 7 anos de idade”.
O artigo, desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIunit) do ISPUP, designa-se Direct and BMI-mediated effect of birthweight on childhood cardiometabolic health—a birth cohort study, e é também assinado pelos investigadores Milton Severo, Debbie A. Lawlor e Henrique Barros.
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