O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), participam num projeto europeu de transferência de conhecimento entre Portugal, Dinamarca e França, na área da avaliação do risco e benefício do consumo de alimentos.
Intitulado “RiskBenefit4EU – Partnering to strengthen the risk-benefit assessment within EU using a holistic approach”, o projeto é cofinanciado pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA), e é coordenado pelo INSA.
“Este é um projeto de capacitação que visa, essencialmente, formar os investigadores das instituições portuguesas na área da avaliação do risco e benefício do consumo alimentar, que se constitui como uma ferramenta valiosa para estimar o impacto geral dos alimentos na saúde, de forma a sustentar políticas alimentares e contribuir para melhorar a saúde humana”, refere Duarte Torres, investigador do ISPUP e docente na FCNAUP.
No âmbito do projeto, os investigadores portugueses receberam formação do Institut national de la recherche agronomique (INRA, França) e da Technical University of Denmark (DTU) em três domínios, nomeadamente, “formação sobre os conceitos-chave da avaliação de risco-benefício; formação prática, em que foram aplicadas as metodologias e as ferramentas aprendidas a um estudo de caso concreto; e missões de curta duração, para obter formação avançada na área da avaliação do risco-benefício dos alimentos”, explica.
O estudo de caso português, desenvolvido para consolidar os conhecimentos adquiridos na formação, incidiu sobre os alimentos à base de cereais que são habitualmente consumidos por crianças.
“Através de estudos prévios, sabíamos que as crianças com menos de três anos de idade consumiam de forma frequente cereais de pequeno-almoço (as conhecidas estrelitas, chocapics, etc.) em substituição dos cereais infantis (nomeadamente as papas). Ambos os produtos têm exigências de qualidade diferentes. Os cereais de pequeno-almoço têm mais fibra, mas também níveis mais elevados de micotoxinas do que os cereais infantis. Estes, por sua vez, apresentam menores níveis de contaminação, mas têm menos fibra. A questão que tínhamos era: qual o efeito global na saúde das crianças (risco vs benefício) da substituição dos cereais de pequeno-almoço pelos cereais infantis”, diz o investigador.
Após aplicarem a metodologia aprendida, e tendo em conta os riscos associados às micotoxinas e ao efeito da fibra na saúde humana, os investigadores concluíram que não existe nenhum benefício em substituir os cereais de pequeno-almoço pelos infantis, na população analisada.
“É de realçar que este estudo não tinha como objetivo principal resolver uma questão científica, mas antes aplicar a metodologia aprendida a um estudo de caso, usando dados reais, neste caso, os do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF). A partir destes dados, pudemos depois criar diferentes cenários de consumo alimentar para a avaliação do risco-benefício, tendo como cenário de referência o consumo observado no IAN-AF”, nota.
O projeto “RiskBenefit4EU” pretende ser uma oportunidade para capacitar investigadores portugueses para a avaliação do risco-benefício do consumo alimentar e poderá ser futuramente aplicado a equipas de outras nacionalidades.
De sublinhar que o método aprendido no projeto está já a ser usado para apoiar a tomada de decisão no que diz respeito às recomendações de consumo de peixe, que é um exemplo clássico de avaliação de risco-benefício.
O relatório científico do projeto, onde se dá a conhecer a estratégia de formação aplicada, e o website do “RiskBenefit4EU” podem ser consultados.