Quem, onde e porquê está a realizar testes para saber se está infetado com o novo coronavírus (SARS-CoV-2), o vírus causador da doença COVID-19? Algumas respostas são apresentadas nos novos resultados divulgados pelo estudo “Diários de uma pandemia”, uma investigação conduzida pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), em parceria com o jornal PÚBLICO.
Desde os dias 23 de março até ao dia 21 de abril, foi possível perceber, por exemplo, que a maior proporção de testes positivos ocorreu entre pessoas que nunca chegaram a manifestar qualquer sintoma nem tiveram qualquer contacto com casos suspeitos ou confirmados de covid-19. Verificou-se igualmente que as pessoas que realizam mais testes têm profissões ligadas à saúde e ao apoio social.
A investigação, que iniciou no dia 23 de março, está a convidar os cidadãos a responderem diariamente a um conjunto de perguntas, que visam ajudar a compreender a evolução da vida dos Portugueses, ao longo da pandemia de COVID-19.
Os resultados noticiados no novo relatório dos Diários de uma Pandemia debruçam-se sobre a realização dos testes para detetar a presença de infeção por SARS-CoV-2 e dizem respeito ao período compreendido entre os dias 23 de março e 21 de abril de 2020. Participaram no estudo 11. 125 indivíduos, que responderam a 127.744 questionários.
Pessoas assintomáticas e sem contacto com casos suspeitos ou confirmados tiveram maior proporção de testes positivos
Na amostra do estudo, a maior proporção de testes positivos ocorreu em pessoas que nunca chegaram a manifestar qualquer sintoma de COVID-19, nomeadamente, tosse, febre e ou dificuldade respiratória.
Dos 11.125 indivíduos que participam na investigação, 8613 declararam nunca ter tido contacto pessoal com casos suspeitos ou confirmados de COVID-19 nem desenvolver quaisquer sintomas. Ainda assim, por terem uma maior perceção de risco, por exemplo, 187 indivíduosdecidiram fazer o teste para detetar a presença de infeção para o SARS-CoV-2. E verificou-se que quase metade (91 pessoas) estava infetada.
De sublinhar que, no estudo, 2523 pessoas declararam ter tido sintomas da doença e/ou contactos com indivíduos suspeitos ou infetados pelo novo coronavírus. Houve quem apenas manifestasse sintomas, quem tivesse tido apenas contactos de risco e quem tivesse apresentado simultaneamente sintomas e contactos de risco.
Das 295 pessoas que disseram ter tido sintomas e contactos de risco, em simultâneo, apenas 73 (24,7%) foram fazer o teste, quando seria de esperar que todas o tivessem feito. Destas, 27 testaram positivo.
“Não sabemos quais as razões que podem ter levado estes participantes a não ter realizado um teste quando aparentemente ele estaria indicado, nem, pelo contrário, o que os levou a decidir fazer esse teste ou a ter-lhes sido prescrito perante um quadro de sintomas ou ligação epidemiológica não sugestiva de risco”, referem os investigadores no relatório publicado.
A realização do teste varia de acordo com o nível de escolaridade
O estudo permitiu concluir que a realização do teste varia de acordo com o nível de escolaridade. Os participantes com doutoramento foram os que menos realizaram o teste, seguidos dos indivíduos com o ensino secundário ou menos. Já as pessoas com níveis de ensino correspondentes a bacharelato, licenciatura ou mestrado foram as que mais realizaram testes para o diagnóstico da infeção por SARS-CoV-2.
Os profissionais ligados às áreas da saúde e de apoio social fizeram mais testes
Outro dos resultados revelados mostra que os participantes que mencionaram ter trabalhos relacionados com a saúde humana e o apoio social, foram os que mais frequentemente realizaram o teste (8.8%), apesar de serem também os que apresentaram menos testes positivos para a infecção. Tal pode significar que “mesmo perante situações de maior risco, o conhecimento e a aplicação das medidas de prevenção levam a um risco menor de adquirir a infeção”, lê-se no relatório.
O estudo mostra também que a proporção de testes é superior entre os participantes que saíram alguma vez de casa para trabalhar, em comparação com os que puderam ficar em regime de teletrabalho ou que não estavam a trabalhar.
Testes foram mais frequentes em mulheres e nos residentes das regiões do Norte e Açores
Na amostra analisada, a realização do teste foi mais frequente nas mulheres (4,5%) do que nos homens (3,7%). Os mais jovens (16-29 anos) foram os menos testados, sendo a maior proporção de testes realizada nos participantes com idades compreendidas entre os 30 e 39 anos, 50 e 59 anos e 60 ou mais anos (4,9%, respetivamente).
No que toca a distribuição geográfica, o número de testes foi superior entre os residentes dos Açores e da Região Norte.
Continue a participar!
O estudo “Diários de uma pandemia” continua a recolher informação sobre o modo como os Portugueses atuam em relação a um conjunto de situações que poderão influenciar o curso da pandemia de COVID-19 em Portugal. Todas as semanas, novos resultados são divulgados.
Para produzirmos conhecimento científico de relevo nesta área, precisamos da sua colaboração. Por isso, continue a participar, dedicando 5 a 10 minutos do seu dia a responder às questões do nosso inquérito.
Se ainda não participou no estudo “Diários de uma pandemia”, pode fazê-lo aqui. Pode também consultar os resultados de semanas anteriores, aqui.
Imagem: Pixabay/fernandozhiminaicela