O nariz eletrónico – um dispositivo que avalia o ar exalado – pode ser usado em contexto clínico para ajudar os médicos a diagnosticarem asma em pacientes e a dirigir um tratamento mais personalizado a cada doente, concluiu um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado na revista “Allergy”.
“O trabalho surgiu como uma prova conceito para testar a eficácia do nariz eletrónico na deteção de diferenças entre o ar exalado em pessoas com sintomas sugestivos de asma, uma doença complexa, na qual o diagnóstico é frequentemente um processo difícil e pouco ajustado a cada paciente”, refere Mariana Farraia, primeira autora do estudo, coordenado por André Moreira.
“Queríamos perceber se o dispositivo era capaz de distinguir diferenças no ar exalado entre pessoas que apresentavam mais sintomas sugestivos de asma e as que reportavam menos sintomas”.
A investigação, que envolveu 199 voluntários, com ou sem diagnóstico de asma, recrutados na consulta de imunoalergologia do Centro Hospitalar de São João, no Porto, comprovou que o nariz eletrónico é capaz de encontrar diferenças nos compostos do ar exalado entre pessoas que têm asma e mesmo entre pacientes que não têm a doença, mas que possuem mais sintomas característicos de asma, evidenciando que ao nível inflamatório das vias aéreas poderá existir alguma anormalidade.
Utilidade para a prática clínica
Para Mariana Farraia, “o estudo pretende criar mais meios de diagnóstico para detetar a asma e auxiliar os médicos a conseguirem dirigir um tratamento mais adequado a cada doente”. Existe, assim, uma utilidade para a prática clínica, já que com os resultados apresentados pelo aparelho é possível adequar a terapia ao doente, consoante as variantes detetadas pelo nariz eletrónico.
Trabalho previamente premiado
O trabalho, publicado na revista “Allergy”, foi distinguido no congresso da European Academy of Allergy & Clinical Immunology, que decorreu na Noruega, entre 24 e 27 de janeiro de 2019.
A mesma investigação recebeu também um prémio para ser apresentada no ISAF- International Severe Asthma Forum 2018, que aconteceu em Madrid, entre 8 e 10 de novembro de 2018.
Note-se que, segundo os dados do Inquérito Nacional de Saúde (INS), a prevalência de Asma em Portugal é de 5.3% (aproximadamente 530 mil pessoas). O artigo em questão serviu para prova de conceito que fundamenta a tarefa seguinte do grupo: desenvolver um algoritmo que permita identificar as formas mais graves de asma, as quais necessitam de abordagem clínica diferenciada, e que, segundo os resultados do INS, atingem cerca de 1.4% dos portugueses.
A investigação intitula-se Human volatilome analysis using eNose to assess uncontrolled asthma in a clinical setting e pode ser acedida aqui. Os investigadores João Cavaleiro Rufo, Inês Paciência, Francisca Castro Mendes, Ana Rodolfo, Tiago Rama, Sílvia M. Rocha, Luís Delgado e Paul Brinkman também participaram no artigo.