O teletrabalho é mais frequente na Área Metropolitana de Lisboa e são os profissionais de saúde, os trabalhadores do setor primário e as pessoas menos escolarizadas quem mais trabalha fora de casa. Duplicaram as idas a casa de amigos e familiares e aumentou a percentagem de pessoas que contactam diariamente com cinco ou mais elementos fora do seu agregado. Estes são alguns dos novos resultados divulgados pelo estudo “Diários de uma pandemia”, que procurou, entre os dias 23 de março e 10 de maio de 2020, perceber como evoluiu a vida dos Portugueses, durante e após o estado de emergência nacional, no contexto da pandemia de COVID-19.
A investigação, conduzida pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), em parceria com o jornal PÚBLICO,está a convidar os cidadãos a responderem diariamente a um conjunto de perguntas, que visam ajudar a compreender a evolução da vida dos Portugueses, ao longo da pandemia de COVID-19.
Os resultados noticiados neste novo relatório dizem respeito ao período compreendido entre os dias 23 de março e 10 de maio de 2020. Participaram no estudo 13 517 indivíduos, que responderam a mais de 200 mil questionários.
Os profissionais de saúde, do setor primário e as pessoas menos escolarizadas trabalharam mais fora de casa
Entre os dias 23 de março e 10 de maio, observou-se um aumento de perto de 50% no trabalho fora de casa, entre os participantes no estudo que se encontravam empregados.
As saídas para trabalhar neste regime foram sempre mais frequentes entre os trabalhadores da saúde, do setor primário (onde se incluem atividades como a agricultura, produção animal e pescas) e do setor secundário (cujas atividades profissionais estão, por exemplo, ligadas às indústrias transformadoras, construção, gás e água).
De acordo com o relatório, a percentagem de profissionais de saúde a trabalhar fora de casa aumentou para 39%, na última semana do estado de emergência, e para 44%, até ao dia 10 de maio. Mas foi entre os trabalhadores do setor secundário que houve um aumento mais claro no número de saídas: de 21% no fim de março para 36% até 10 de maio.
Foi possível observar que o trabalho fora de casa foi sempre mais frequente entre as pessoas com menos escolaridade, tendo-se registado um aumento das saídas de 28% (na primeira quinzena de abril) para 45%, de 4 a 10 de maio.
Teletrabalho mais frequente na Área Metropolitana de Lisboa
Entre os participantes empregados, 53% estavam em teletrabalho, entre 23 e 29 de março, observando-se uma descida para 48%, até ao dia 10 de maio.
O teletrabalho foi mais frequente na Área Metropolitana de Lisboa e menos comum na região Centro do país.
Esta modalidade de trabalho foi mais referida pelas pessoas com 60 ou mais anos de idade e pelos indivíduos com ensino superior.
Aumentou a percentagem de pessoas que contactam diariamente com 5 ou mais elementos fora do agregado familiar
Durante o período de análise, quase duplicou a percentagem de pessoas que diariamente tiveram contacto presencial com cinco ou mais indivíduos fora do agregado familiar, o que pode ser um reflexo da retoma da atividade profissional.
Estes contactos foram mais frequentes entre os residentes do Centro e Alentejo e menos frequentes entre os habitantes da Área Metropolitana de Lisboa. Foram também mais mencionados pelos profissionais da área da saúde e dos setores primário e secundário e pelos indivíduos com menor escolaridade (ensino básico ou menos).
Duplicaram as idas a casa de amigos e familiares
As idas a casa de amigos e familiares duplicaram, no período em estudo. As saídas com este propósito foram feitas com maior frequência pelas pessoas mais jovens e pelos residentes do Norte, Centro e Alentejo.
De registar que os habitantes da Área Metropolitana de Lisboa mencionaram ter feito mais contactos com amigos e familiares, através do telefone e internet, assim como os inquiridos com um maior nível de escolaridade.
Idas diárias a supermercados mais reportadas no Alentejo e Algarve
As saídas diárias para supermercados decresceram em abril e voltaram a aumentar em maio para valores semelhantes aos do fim de março.
Os habitantes do Alentejo e do Algarve foram os que mais mencionaram ir diariamente a supermercados, hipermercados ou mercearias, o que se poderá relacionar com a menor oferta de grandes superfícies nestas regiões.
Já as idas a outro tipo de estabelecimentos comerciais (excluindo supermercados e farmácias) duplicaram, desde o fim de março até ao dia 10 de maio, e foram principalmente referidas pelos homens e pelas pessoas com 60 ou mais anos de idade.
Os mais jovens consideram ter risco mais de elevado de infeção
Do total de participantes no estudo “Diários de uma pandemia”, 16% consideraram ter risco de infeção alto ou muito alto, nas primeiras duas semanas de análise (23 de março a 5 de abril), e os mais jovens consideraram sempre ter risco mais elevado de infeção.
Note-se que a percentagem de pessoas que referiram ter contactos recentes com casos suspeitos ou confirmados de COVID-19 desceu para menos de metade, durante o período em estudo.
Continue a participar!
O estudo “Diários de uma pandemia” continua a recolher informação sobre o modo como os Portugueses atuam em relação a um conjunto de situações que poderão influenciar o curso da pandemia de COVID-19 em Portugal. Todas as semanas, novos resultados são divulgados.
Para produzirmos conhecimento científico de relevo nesta área, precisamos da sua colaboração. Por isso, continue a participar, dedicando 5 a 10 minutos do seu dia a responder às questões do nosso inquérito.
Se ainda não participou no estudo “Diários de uma pandemia”, pode fazê-lo aqui. Pode também consultar o relatório relativo aos resultados divulgados hoje, aqui, e os resultados referentes às semanas anteriores do estudo, aqui.
Consulte neste link a notícia preparada pelo jornal PÚBLICO.
Imagem: Pixabay/B_Me