As crianças que estudam em escolas com um maior número de árvores no seu entorno apresentam menores níveis de óxido nítrico exalado, um marcador que é usado para avaliar a inflamação das vias aéreas. A conclusão é de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado na revista European Annals of Allergy and Clinical Immunology.
A investigação, que surge no seguimento de um artigo prévio, que apontava o benefício dos espaços verdes para a função pulmonar das crianças, analisou se a densidade e o tipo de árvores existentes ao redor das escolas afetava a inflamação das vias aéreas das crianças, a qual está associada a sintomas como dificuldade em respirar, tosse seca e pieira.
Para levarem a cabo o estudo, os autores avaliaram o número e o tipo de árvores que se encontravam a uma distância de 500 metros de 20 escolas primárias da cidade do Porto, que aceitaram participar na investigação. Foi considerada a presença de coníferas, como os pinheiros, e de árvores de folha larga, como os plátanos.
Paralelamente, os investigadores avaliaram a função pulmonar e o nível de inflamação das vias aéreas de uma amostra de 845 crianças que se encontravam a frequentar as referidas instituições de ensino. O marcador usado para avaliar a inflamação das vias aéreas foi o óxido nítrico exalado pelas crianças.
A importância do óxido nítrico
O óxido nítrico “é formado no nosso organismo e consiste numa resposta do processo inflamatório a um fator externo. Em zonas com maior poluição há, à partida, um aumento da resposta inflamatória, e, consequentemente, uma maior produção de óxido nítrico pelo organismo”, indica Inês Paciência, primeira autora do estudo, coordenado por André Moreira.
A investigação concluiu que as crianças que estudam em escolas com uma maior densidade de árvores de folha larga ou coníferas no seu entorno exalam menores quantidades de óxido nítrico, o que significa que apresentam uma menor resposta inflamatória das vias aéreas.
Como explica Inês Paciência, este tipo de árvores pode ajudar a diminuir a poluição presente no ar, quer servindo de barreira aos poluentes, quer absorvendo elas próprias alguns poluentes, contribuindo assim para reduzir a poluição em algumas zonas ao redor das escolas”. Por essa razão, “os níveis de óxido nítrico exalado pelas crianças são menores”.
Os autores destacam que os efeitos benéficos da presença de árvores perto das escolas não se fazem sentir apenas em crianças asmáticas, mas também em crianças saudáveis.
“Observámos que, tanto as crianças não asmáticas como as asmáticas, tiveram uma diminuição da inflamação das suas vias aéreas, e que estas últimas apresentaram também uma redução da sintomatologia associada à asma”, diz.
A importância de uma cidade verde
Para a investigadora do ISPUP, o estudo desginado Association between the density and type of trees around urban schools and exhaled nitric oxide levels in schoolchildren, acessível AQUI, veio demonstrar que a proximidade a espaços verdes se associa a melhor saúde.
“É importante termos uma cidade verde, que promova a melhoria da qualidade do ar, porque este tem impacto na qualidade de vida e na saúde da população. A nível de urbanismo, é crucial pensarmos na tipologia de árvores que colocamos à volta dos edifícios e na forma como estas podem ajudar a reduzir a poluição”.
Os investigadores João Rufo, Ana Isabel Ribeiro, Francisca Castro Mendes, Mariana Farraia, Diana Silva e Luís Delgado participaram também no artigo.
Imagem: Pixabay/ArtisticOperations