O projeto de Doutoramento da investigadora do ISPUP, Magda Fonseca, foi um dos três premiados na cerimónia de encerramento do 21º Encontro Nacional de Internos e Jovens Médicos de Família (21º ENIJMF), que decorreu esta manhã, em Ponte de Lima. O projeto em questão trata-se de um estudo exploratório que visa melhorar o processo de referenciação de casos de demência ou défice cognitivo ligeiro nos cuidados de saúde primários.
A atribuição deste prémio resulta de uma iniciativa conjunta entre a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), que todos os anos destacam e incentivam projetos de investigação ligados à melhoria dos cuidados de saúde primários.
O principal objetivo do projeto premiado, que começará a ser implementado ainda em 2023 em Unidades de Saúde Familiar (USF) de Matosinhos, passa por aumentar o número de casos clínicos corretamente detetados como sendo de défice cognitivo ligeiro ou demência em estado inicial nos cuidados de saúde primários, com a possível consequência de aumentar o número de referenciações corretas para as consultas de Neurologia do Hospital de Referência. Neste sentido, através da deteção e referenciação precoce destes casos, o projeto procurará reduzir o risco de progressão para estádios mais graves de demência de quem procura ajuda nos centros de saúde, diminuindo assim também o “peso” que esta condição acarreta para familiares e cuidadores.
Para tal, a investigadora Magda Fonseca tem prevista a implementação e a avaliação da adesão dos profissionais de saúde de USF de Matosinhos a dois tipos de estratégias de intervenção cognitiva distintas que são utilizadas como ferramentas de apoio no processo de decisão de referenciação de casos em que haja suspeita de défice cognitivo ligeiro ou demência em estádio inicial, preferencialmente. Estes dois tipos de estratégias de intervenção cognitiva são (1) a versão em papel dos testes MMSE e MoCA – grupo de intervenção MMSE/MoCA – e (2) a plataforma web-based Brain on Track – grupo de intervenção Brain on Track/MMSE/MoCA –, que serão comparadas com a prática clínica regular que consiste no grupo Controlo.
A proposta deste projeto de Doutoramento está alinhada com uma das prioridades da Estratégia Nacional da Saúde na Área das Demências, que é o diagnóstico precoce da demência. Sabemos que é junto dos cuidados de saúde primários que a maioria dos indivíduos com queixas cognitivas procuram a primeira ajuda e sabemos também que, muitas vezes, não lhes é dada a resposta devida, porque as USF têm vários constrangimentos de funcionamento, nomeadamente, a falta de tempo para consultas, a falta de recursos humanos e a falta de conhecimentos sobre a gestão eficiente dos pacientes com diagnóstico suspeito de demência, existindo, por vezes, adicionalmente, alguma falta de confiança dos profissionais de saúde na validade clínica dos testes cognitivos atualmente utilizados neste contexto. Estas limitações impedem estes mesmos profissionais de realizar uma avaliação cognitiva válida e de procederem ao correto encaminhamento para consultas especializadas de Neurologia nos hospitais públicos de referência.
Importa dizer que este projeto terá em conta os constrangimentos organizacionais de cada USF, e pretende, por isso, adaptar-se a cada uma das realidades encontradas, promovendo um envolvimento dos profissionais de saúde e esperando que este estudo possa, realmente, ajudá-los a lidar com o desafio diário que é a gestão da demência.
Prevê-se, nesta primeira, fase, a implementação em seis USF de Matosinhos, durante um período de 12 meses. Se os resultados obtidos forem satisfatórios, o projeto poderá ser replicado noutras USF do país e poderá também fornecer dados valiosos para a elaboração de estudos clínicos que avaliem a eficácia do Brain on Track em comparação com o MoCA e o MMSE, no que diz respeito à deteção de casos clínicos de défice cognitivo ligeiro ou demência em estádio inicial.
Importa, ainda, destacar que “caso os resultados nos mostrem que ocorreu uma melhoria efetiva no processo de referenciação, um possível benefício obtido com a implementação deste projeto na rede de cuidados de saúde primários será também a redução de custos que o Sistema Nacional de Saúde terá em exames de diagnóstico e tratamentos farmacológicos desnecessários, a longo prazo”, conclui Magda Fonseca.
O prémio atribuído pela APMGF e pela AICIB consiste numa bolsa de investigação no valor de 3000€ e numa mentoria de 40 horas.