O estudo “Residential exposure to green and blue spaces over childhood and cardiometabolic health outcomes: The generation XXI birth cohort”, desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), procurou perceber se crescer perto de espaços verdes e azuis — como parques, jardins, rios ou o mar — tem impacto na saúde cardiometabólica das crianças aos 10 anos. Este foi o primeiro estudo a relacionar a proximidade a espaços verdes e azuis, desde o nascimento até à pré-adolescência, com indicadores de saúde cardiometabólica nas crianças.
A investigação, publicada recentemente na prestigiada revista científica Environment International, utilizou dados da Coorte Geração XXI para estudar a relação entre a exposição a espaços naturais urbanos ao longo da infância e vários indicadores de saúde – índice de massa corporal (IMC), pressão arterial, gordura corporal e risco de síndrome metabólica – aos 10 anos de idade. No total, foram analisados dados de 4669 crianças, nascidas entre 2005 e 2006 na Área Metropolitana do Porto e acompanhadas desde o nascimento.
Este estudo recorreu a uma abordagem longitudinal para monitorizar a proximidade das residências destas crianças a espaços verdes (parques, jardins) e espaços azuis (rios ou mar). Esta exposição foi avaliada em quatro momentos (ao nascimento e nas avaliações dos 4, 7 e 10 anos) e cruzada com medidas clínicas e laboratoriais recolhidas por profissionais de saúde. Os resultados não revelaram associações estatisticamente significativas entre a exposição aos espaços naturais e a saúde cardiometabólica das crianças.
Apesar disso, os investigadores sublinham o valor científico do estudo. “É o primeiro estudo a nível internacional que cruza dados sobre exposição a espaços naturais recolhidos ao longo de uma década com dados clínicos e laboratoriais relativos à saúde cardiometabólica”, destaca Susana Santos, última autora do estudo.
A investigação permitiu ainda fazer uma caracterização detalhada do ambiente urbano ao redor da residência das crianças e traçar a respetiva evolução, ao longo da infância. No entanto, os investigadores reconhecem limitações importantes: não foram recolhidos dados sobre a utilização efetiva dos espaços verdes e azuis pelas crianças, o que pode influenciar os efeitos observados.
A equipa responsável pelo estudo defende que, para se compreender melhor o impacto da exposição a espaços naturais na saúde infantil, é necessário que futuros estudos integrem informação sobre qualidade ambiental, contexto socioeconómico e comportamentos de saúde. Recomendam ainda o uso de indicadores mais precisos sobre o contacto real das crianças com o ambiente natural.
Apesar de os resultados não apoiarem a ideia de um benefício direto da natureza ao redor da residência das crianças na saúde cardiometabólica aos 10 anos, os investigadores alertam para a importância de manter e promover o acesso a espaços verdes e azuis nas cidades, pelo seu valor social, psicológico e ambiental.