Estudo do ISPUP estima, pela primeira vez, o consumo de flavonoides na população portuguesa. Estes compostos bioativos, naturalmente presentes nos alimentos, têm potencial na prevenção de doenças cardiovasculares, cancro e distúrbios neurodegenerativos.
O estudo “Estimated dietary flavonoid intake and major food contributors in the Portuguese population: results from the national food, nutrition and physical activity survey (IAN-AF 2015-2016)”, levado a cabo por uma equipa de investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), analisou pela primeira vez a ingestão de flavonoides na população portuguesa. A investigação sublinha que estes compostos possuem propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e anticancerígenas, que poderão ser promissoras na prevenção de doenças cardiovasculares, cancro e distúrbios neurodegenerativos.
Os flavonoides são uma classe importante de polifenóis, compostos bioativos presentes em alimentos e bebidas, reconhecidos pelo seu papel na prevenção de várias doenças crónicas. O consumo regular de alimentos ricos em flavonoides pode modular a função do sistema imunitário, proteger os vasos sanguíneos e até interferir na progressão de certos tipos de cancro, inibindo a proliferação celular e induzindo a apoptose (morte celular programada). Apesar de já terem sido estudados noutros países, até agora não existiam dados sobre o seu consumo na população portuguesa.
Esta investigação, publicada na revista British Journal of Nutrition, baseou-se nos dados do Inquérito Nacional de Alimentação e Atividade Física 2015–2016 e incluiu 5005 participantes com idades entre os 3 e os 84 anos. Com base nestes dados, foi possível estimar uma ingestão média de 107,3 mg de flavonoides totais por dia, para a população portuguesa.
As frutas (31,5%) e os hortícolas (12,4%) foram identificados como tendo os maiores contributos para o consumo total de flavonoides na população geral. Verificou-se que os adolescentes apresentam os valores mais baixos de ingestão, enquanto os idosos registam os mais elevados. Foram ainda observadas diferenças significativas consoante o sexo, o nível de escolaridade e a prática de atividade física. A título de exemplo, os participantes fisicamente ativos apresentaram maior ingestão de certas classes de flavonoides, particularmente entre as mulheres. Para realizar esta estimativa, os investigadores cruzaram os dados de consumo alimentar com as bases de dados mais atualizadas do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) e da base de dados europeia Phenol-Explorer, recorrendo ao sistema de classificação alimentar FoodEx2 da EFSA (European Food Safety Authority).
“Este estudo fornece dados importantes e robustos sobre a ingestão de flavonoides em Portugal e propõe uma nova metodologia que integra várias bases de dados com o sistema FoodEx2. Esta abordagem permitiu estimar com maior precisão o consumo de flavonoides totais e suas classes. A metodologia é replicável noutras populações e facilita a comparabilidade entre estudos, contribuindo para o desenvolvimento de valores de referência dietéticos baseados em evidência científica”, explica Sofia Martins, investigadora do ISPUP e primeira autora do estudo.
Além de fornecer informação importante sobre o consumo de flavonoides em Portugal, este estudo permitirá fazer comparações internacionais e abrirá caminho para futuras investigações sobre o impacto destes compostos na saúde humana. Os autores sublinham ainda a importância destes dados para o futuro estabelecimento de valores de referência dietéticos e estratégias de promoção de hábitos alimentares saudáveis.