Um estudo internacional, em que o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) participa, mostrou que pertencer a uma classe social mais baixa afeta a saúde, induzindo maiores níveis de inflamação crónica. De sublinhar que a inflamação crónica está associada a uma série de doenças como o cancro, doença cardiovascular e a diabetes.
O artigo, publicado na revista “Scientific Reports” e desenvolvido no âmbito do projeto europeu Lifepath, mostrou também que quem vive em países onde existem maiores discrepâncias entre ricos e pobres apresenta maiores níveis de inflamação.
Sabe-se que a posição socioeconómica, seja ela medida através do rendimento, educação, classe social ou profissão, afeta a saúde e a esperança média de vida. Há já evidência científica robusta que mostra que a posição socioeconómica pode influenciar diretamente a saúde, através de mecanismos neurológicos e hormonais. Pertencer a um grupo mais desfavorecido pode induzir stress psicossocial, o qual pode gerar uma resposta inflamatória no organismo.
Segundo Ana Isabel Ribeiro, investigadora do ISPUP envolvida no estudo, “neste trabalho, procurámos ver, por um lado, até que ponto os indivíduos de classe social mais baixa apresentavam maiores níveis de inflamação e, por outro, se a população que vive em países onde há maior desigualdade social também apresentava maior inflamação”.
Para testar estas duas hipóteses, os investigadores usaram dados de 18.400 indivíduos, com idades compreendidas entre os 50 e os 75 anos, de quatro países europeus – Portugal, Irlanda, Reino Unido e Suíça. Os indivíduos integravam cinco coortes (estudos longitudinais) dos referidos países: ELSA e Whitehall II (Reino Unido), TILDA (Irlanda), EPIPorto (Portugal) e SKIPOGH (Suíça). “Estes países foram escolhidos, porque apresentam diferentes níveis de desigualdade social, no seio das suas sociedades”, adianta Ana Isabel Ribeiro.
Os investigadores consideraram a profissão como indicador da posição socioeconómica e a concentração de proteína C-reativa como medida da inflamação crónica. Trata-se de uma proteína que é produzida pelo fígado, cuja concentração sanguínea aumenta quando o nosso corpo está a lidar com processos inflamatórios ou infeciosos.
Constatou-se que Portugal é o país que apresenta níveis mais elevados de inflamação crónica na população, o que pode advir do facto de ser o país (dos 4 considerados) mais desigual em termos sociais. Já a Suíça apresentou menores níveis de inflamação, o que poderá ser explicado pelo facto de as desigualdades salariais serem inferiores neste país.
“Verificámos que quanto mais desigual é o país, maior é o nível de inflamação dos indivíduos e também mais pronunciado é o gradiente socioeconómico da inflamação. Existe, de facto, uma diferença significativa entre os níveis de proteína C-reativa das classes mais pobre e mais rica”, refere a investigadora do ISPUP.
A investigação mostra que “a classe social é um fator de risco para saúde. Além do mais, podemos ver que, não é apenas o facto de se ser rico ou pobre que tem influência, mas também o facto de se viver numa sociedade onde existem grandes assimetrias. A presença de grandes desigualdades sociais pode ser prejudicial para todas as pessoas, independentemente da posição que elas ocupam na hierarquia social”, remata.
O estudo designa-se A Comparative Analysis of the Status Anxiety Hypothesis of Socio-economic Inequalities in Health Based on 18,349 individuals in Four Countries and Five Cohort Studies .
Sobre o projeto europeu Lifepath:
O Lifepath (Lifecourse biological pathwaysunderlying social differences in healthy ageing) é um projeto europeu financiado pela Comissão Europeia que tem por objetivo investigar os mecanismos biológicos através dos quais as desigualdades sociais conduzem às desigualdades em saúde.
Imagem: Pixabay/Computerizer