Um estudo promovido pela Portugal Football School, da Federação Portuguesa de Futebol, no qual participou o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), sugere que o futebol não é uma modalidade desportiva de alto risco de exposição respiratória para a transmissão da COVID-19. Este resultado está em sintonia com a classificação de “médio risco”, atribuída pela Direção-Geral da Saúde à modalidade, em agosto deste ano.
A investigação, publicada na revista “Sensors”, monitorizou as dinâmicas de um jogo de futebol internacional, recorrendo a dados de tracking (rastreamento), que permitiram avaliar o contacto interpessoal entre os indivíduos em campo.
“Foram analisados os posicionamentos e movimentações dos jogadores e árbitros durante um jogo de futebol que terminou empatado a três golos, através de um sistema com câmaras super-HD e tecnologia de processamento de imagem patenteada. Esta tecnologia é utilizada em campeonatos como a Premier League, Bundesliga, La Liga, Eredivisie, Liga dos Campeões e jogos internacionais da UEFA e da FIFA”, explica Romeu Mendes, investigador do ISPUP envolvido no estudo, em conjunto com Henrique Barros.
Para quantificar o risco de exposição à COVID-19 durante o jogo, os investigadores calcularam duas medidas de exposição respiratória.
A primeira medida, calculada para cada indivíduo, foi baseada no tempo passado a uma distância inferior a dois metros em relação aos restantes. Para o cálculo da segunda medida, foi adicionado à primeira o tempo de exposição à “nuvem” de gotículas respiratórias formada pelo movimento dos outros intervenientes.
Concluiu-se que o futebol não parece ser uma atividade de alto risco para a transmissão respiratória do vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19. Ficou demonstrado que o tempo máximo de exposição entre dois jogadores adversários foi de seis minuto e meio, a menos de dois metros.
Note-se que à data, o Centro Europeu para Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês) define como exposição de alto risco o contacto interpessoal com um caso confirmado de COVID-19, durante mais de 15 minutos, a uma distância de pelo menos dois metros, e sem máscara.
Aplicação da metodologia a outras modalidades
Para Romeu Mendes, os resultados do estudo indicam que “esta metodologia de análise poderá ser utilizada para avaliar a exposição respiratória decorrente do contacto interpessoal e consequente estratificação do risco da prática e competição de diferentes modalidades desportivas ou atividades físicas, contribuindo para o planeamento de diferentes atividades no contexto da pandemia de COVID-19”.
Já Henrique Barros considera que “o estudo fornece informação relevante para compreender o risco de transmissão na perspetiva das situações de contacto e pode ser visto como um contributo para decidir sobre as chamadas medidas não farmacológicas de prevenção da infeção”. E adianta que, “naturalmente, contribui também para uma melhor ‘gestão’ do receio com que as atividades de contacto social poderão ser encaradas”.
Na investigação designada Can Tracking Data Help in Assessing Interpersonal Contact Exposure in Team Sports during the COVID-19 Pandemic? participaram também investigadores da Universidade de Évora, do Instituto Universitário da Maia, da Universidade da Beira Interior e da Universidade Nova de Lisboa.
O artigo encontra-se disponível AQUI.
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