As crianças que estão mais expostas a espaços verdes apresentam melhores níveis de marcadores biológicos (indicadores que ajudam a prever o risco de um indivíduo desenvolver doença no futuro) do que aquelas que têm um menor contacto com estes espaços. A conclusão é avançada por um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado na revista Environmental International.
Sabe-se que a exposição a espaços verdes tem um impacto positivo na saúde da população. Entre os vários benefícios, podem destacar-se a prática de mais exercício físico, o fortalecimento das relações sociais, melhor saúde mental e qualidade de vida, menores níveis de stress e de ansiedade e melhor função imune.
No entanto, há ainda pouca investigação sobre o impacto desta exposição em marcadores biológicos.
Segundo Ana Isabel Ribeiro, primeira autora do artigo, coordenado por Henrique Barros, “importa olharmos para os marcadores biológicos, porque estes antecedem muitas patologias crónicas e fatais e, portanto, ajudam-nos a predizer o risco de uma pessoa vir a desenvolver doença no futuro. Esta questão é especialmente relevante em crianças, porque a grande maioria ainda não apresenta sintomas ou tem diagnóstico de doença. A desregulação num determinado marcador biológico constitui portanto um primeiro sinal”.
Os investigadores analisaram o impacto da exposição a áreas verdes em cerca de 3100 crianças, com 7 anos de idade, pertencentes ao estudo longitudinal Geração XXI, que segue, desde 2005, cerca de 8600 participantes que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto.
Mediu-se a exposição destas crianças aos espaços verdes presentes no entorno da sua área de residência e da escola onde estudam, e analisou-se o efeito desta exposição em oito biomarcadores – a pressão arterial sistólica e diastólica (indicadores de saúde cardiovascular), a relação cintura/anca, a hemoglobina glicada, o colesterol HDL e total (indicadores de saúde metabólica) e a proteína C-reativa (indicador inflamatório).
De uma forma geral, concluiu-se que as crianças com menor exposição a áreas verdes apresentavam piores níveis nos biomarcadores analisados. Esta associação foi mais significativa com a exposição medida em torno da área escolar. “As crianças que dispunham de pelo menos um espaço verde, localizado a uma distância de 400 a 800 metros da escola, apresentaram melhores níveis de diversos biomarcadores, particularmente os cardiovasculares e inflamatórios”, diz Ana Isabel Ribeiro.
Numa perspetiva de saúde pública, e somando estes resultados a um conjunto crescente de estudos que tem revelado benefícios fisiológicos e psicossociais do contacto com espaços verdes e naturais, “é fundamental que os governantes e planeadores locais assegurem que a população dispõe de áreas verdes, como parques e jardins, a uma distância razoável dos seus locais de residência e dos parques escolares”, acrescenta.
O artigo, desenvolvido ao abrigo da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP, designa-se Association between neighbourhood green space and biological markers inschool-aged children. Findings from the Generation XXI birth cohort, e é também assinado pelas investigadoras Carla Tavares e Alexandra Guttentag.
O estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto EXALAR 21, o qual está a estudar a relação entre o ambiente urbano e a saúde infantil. A investigadora Ana Isabel Ribeiro é a coordenadora do projeto.
Imagem: Pixabay/Rhythm_In_Life