Uma equipa de investigadores e alergologistas de renome internacional – encabeçada em Portugal por João Rufo, investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) – juntou-se com o objetivo de desenvolver uma aplicação para dispositivos móveis que irá prever a probabilidade de um indivíduo exposto ao conflito da Ucrânia desenvolver asma.
Esta ferramenta terá como principal objetivo auxiliar os médicos no diagnóstico e tratamento da asma em refugiados ucranianos, estimando o potencial risco de desenvolvimento dos sintomas desta doença, de acordo com os fatores ambientais e psicossociais a que o indivíduo esteve exposto.
Além da aplicação, esta taskforce, criada pela Academia Europeia de Alergologia e Imunologia Clínica (EAACI) lançará também um conjunto de recomendações clínicas para os Serviços Nacionais de Saúde dos países envolvidos, de forma a apoiar a criação de um procedimento standard na monitorização da asma, nos refugiados ucranianos.
Sabe-se hoje, pela observação e estudo de conflitos e catástrofes anteriores – como foram a Guerra do Golfo, o ataque ao World Trade Center e a consequente Guerra do Iraque e, mais recentemente, a Guerra Civil na Síria – que o desenvolvimento de asma está diretamente associado a estes contextos, pela exposição a diferentes fatores ambientais e psicossociais. A exposição prolongada a poluentes do ar e as condições de vida extremas, potenciadoras de traumas psicológicos graves, são os fatores que mais contribuem para o desenvolvimento e agravamento dos sintomas da asma.
Em 2011 eclodiu uma guerra civil na Síria e esse é ainda hoje um conflito ativo. Um estudo, que analisou a prevalência da asma e a qualidade de vida dos indivíduos com asma que tiveram que se proteger da guerra num abrigo em Damasco (capital síria), mostrou que 70% das pessoas sentiram que a doença se agravou desde que entraram no abrigo e 44%, que antes do conflito não eram asmáticas, passaram a reportar sintomas da doença. Estas observações sugerem que a asma é subdiagnosticada e subtratada em contexto de guerra, o que, potencialmente, fará com que as manifestações da doença sejam muito mais graves, nos anos seguintes, para estas populações.
No caso concreto do conflito armado da Ucrânia, as explosões de depósitos de combustível e os bombardeamentos com dispositivos de fragmentação expuseram os ucranianos (e algumas populações vizinhas) a concentrações de poluentes ambientais muito acima da média. Quando combinada esta exposição com os traumas psicológicos provocados pela guerra, estão criadas as condições “perfeitas” para o aumento da incidência da asma e/ou para o agravamento da doença, nestas populações.
No sentido de se preparar para o aumento do número de casos de asma e para o agravamento das manifestações da doença, a EAACI criou então esta equipa de trabalho internacional, que conta com a participação de Portugal, Espanha, França, Reuni Unido, Finlândia, Turquia e ainda de dois países não-europeus, Canadá e África do Sul.
Em Portugal, a taskforce é encabeçada pelo Grupo de Trabalho de Epidemiologia da EAACI, liderado por João Rufo, investigador do ISPUP, especializado nos determinantes ambientais das doenças alérgicas e asma.
Além do desenvolvimento de uma aplicação preditiva para o risco de asma, o grupo de trabalho lançará ainda um conjunto de guidelines para a mitigação dos efeitos adversos Guerra na Europa, em termos de incidência e severidade da doença.