A presença de disruptores endócrinos no ar interior das escolas pode conduzir ao desenvolvimento de asma, de sintomas respiratórios e de obesidade nas crianças, concluiu um estudo desenvolvido por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que avaliou a qualidade do ar de 20 escolas primárias da cidade do Porto.
Os disruptores endócrinos são substâncias que provocam alterações em todo o sistema endócrino (hormonal) do indivíduo e que podem ser encontrados em produtos de uso corrente e em aplicações domésticas, como revestimento de pisos, móveis, tintas, entre outros.
Pelas alterações que provocam no organismo, o estudo do efeito destes desreguladores na saúde humana é uma importante questão de saúde pública.
O período da infância é um momento crítico para o estudo do impacto dos desreguladores endócrinos sobre a saúde, uma vez que as alterações registadas nesta idade podem prolongar-se até à vida adulta. Além do mais, pelo tempo que passam em ambientes fechados – locais onde existe uma maior concentração destas substâncias, devido à falta de ventilação – as crianças são um grupo suscetível.
Tendo em conta este enquadramento, os investigadores analisaram a qualidade do ar interior de 71 salas de aula de 20 escolas do ensino primário do Município do Porto.
“Queríamos analisar o impacto dos disruptores endócrinos no desenvolvimento de asma, de sintomas respiratórios nos últimos 3 meses e de obesidade, em crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 12 anos, expostas a estas substâncias dentro das salas de aula”, refere Inês Paciência, investigadora do ISPUP e primeira autora do estudo, coordenado por André Moreira, também investigador do ISPUP.
O estudo envolveu 845 crianças, que frequentavam o 3º e o 4º ano de escolaridade. Os participantes foram submetidos a avaliações de espirometria com broncodilatação e a uma avaliação antropométrica (medição das dimensões corpóreas) e responderam ainda a um questionário relacionado com sintomas respiratórios.
“Concluímos que o ar interior das escolas analisadas apresenta baixas concentrações de disruptores endócrinos. Contudo, mesmo concentrações reduzidas têm já um efeito negativo na saúde das crianças, potenciando o desenvolvimento de asma, de obesidade e sintomas respiratórios”, explica Inês Paciência.
Segundo a investigadora, “a Organização Mundial de Saúde define um limiar a partir do qual a exposição a determinadas concentrações de disruptores endócrinos é nociva para a saúde. No entanto, o que este trabalho mostra é que a exposição a concentrações situadas abaixo desse limiar já é arriscada”.
O que podem, então, as escolas fazer para diminuir a exposição das crianças a estas substâncias? “Uma das medidas passa por aumentar a ventilação natural, abrindo as janelas e as portas, para que o ar circule. Outra questão a que se deve dar atenção é à escolha dos materiais que se colocam dentro das salas, como por exemplo, o mobiliário (principalmente o de plástico), o tipo de pavimento e as tintas usadas para pintar as paredes. Esta escolha deveria ser realizada por uma equipa de pessoas de diferentes áreas, que selecionassem materiais saudáveis para as crianças”, acrescenta.
Com os resultados deste estudo, que veio realçar os efeitos negativos dos disruptores endócrinos sobre a saúde, os investigadores esperam que se implementem medidas para minimizar a exposição a estas substâncias e que se aposte na promoção de um ambiente interior mais saudável nas escolas.
A investigação, publicada na revista “Allergy”, designa-se Exposure to indoor endocrine disrupting chemicals and childhood asthma and obesity.
Imagem: Pixabay/coyot