A investigadora Mariana Farraia, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), foi distinguida no Congresso anual da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) por um trabalho que avaliou a custo-efetividade da administração de uma vacina antialérgica em crianças com rinite alérgica ao pólen.
O prémio, no valor de 3500 euros, foi entregue pela SPAIC, em conjunto com a Roxall, empresa farmacêutica especializada em imunoterapia – uma forma de tratamento utilizada em doenças alérgicas como a rinite e a asma.
“A nível dos efeitos, a imunoterapia é a única que tenta ir à causa das alergias, pois o tratamento habitual é feito para controlar e aliviar os sintomas, através de anti-histamínicos e corticoides nasais. Normalmente, quem tem rinite alérgica, tem de controlar os sintomas desta forma, porque é uma doença crónica que tende a evoluir com a idade, podendo até conduzir à asma, a longo prazo”, explica Mariana Farraia, primeira autora do estudo, coordenado pelo investigador André Moreira.
O trabalho, intitulado Análise de custo-efetividade da imunoterapia específica ao pólen de gramíneas em comparação com o tratamento sintomático padrão em crianças com rinite alérgica, em Portugal, procurou perceber se o custo desta terapia, que ronda os 250 a 300 euros anuais, faria sentido, tendo em conta os seus benefícios para os pacientes, especificamente para as crianças entre os 10 e os 12 anos.
“Com este estudo, percebemos que esta vacina é custo-eficaz, uma vez que os efeitos benéficos que traz, a longo prazo, compensam os gastos tidos com o tratamento”, acrescenta a investigadora.
Para garantir a sua eficácia, este tipo de terapia dura geralmente 3 a 5 anos, com a administração contínua da vacina de forma subcutânea ou oral, e apenas pode ser prescrita por um médico especialista em imunoalergologia – uma consulta específica que representa um gasto acrescido para as famílias.
A importância da comparticipação da vacina para evitar desigualdades no acesso à saúde
As vacinas antialérgicas não são comparticipadas. Devido ao elevado custo desta terapia, existem famílias que recorrem apenas aos tratamentos sintomáticos convencionais, como os anti-histamínicos, ou então optam por fazer o tratamento com imunoterapia por apenas um ano.
As vacinas eram comparticipadas pelo Estado em 50% até 2011, altura da crise económica em Portugal e, desde então, não voltaram a ter comparticipação.
Para Mariana Farraia, “seria positivo o Estado comparticipá-las, porque são um tratamento relativamente caro a que muitas famílias não conseguem ter acesso, apesar da sua efetividade, o que representa desigualdades no acesso à saúde”.
Apesar da imunoterapia surgir como uma forma de tratamento para as doenças alérgicas com cada vez mais estudos que suportam a sua eficácia, a investigadora salienta que o tratamento pode não ser indicado para todos os pacientes.
“No geral, apesar de ser um tratamento eficaz e recomendado pelos alergologistas, a imunoterapia não é para qualquer pessoa, e é sempre recomendada por um médico especialista sob critérios específicos”, frisa.
O prémio foi atribuído no passado dia 7 de outubro, durante a 42ª Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) que ocorreu em formato virtual.
Imagem: Pixabay/Bru-nO