Projeto no Porto implementa intervenções para travar declínio cognitivo em utentes

Ajudar a prevenir o declínio cognitivo de pessoas que estão em risco de desenvolver demência é o objetivo do projeto “MIND – Multiple interventions to prevent cognitive decline”, coordenado pelo ACeS Porto Ocidental e conceptualizado em conjunto com o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), e com mais 13 instituições parceiras.

É sabido que os indivíduos que têm demência perdem funções cerebrais, habitualmente de memória, mas também de autonomia para realizar as tarefas do dia-a-dia. A condição de demência é antecedida habitualmente por um estádio a que se chama défice cognitivo ligeiro.

“Com o défice cognitivo ligeiro os indivíduos conseguem ainda ser autónomos para a realização das suas tarefas do dia-a-dia. Mas a partir do momento em que se atinge a demência, a situação é irreversível e as pessoas passam a necessitar, habitualmente, de um cuidador. Por isso, o que queremos é travar a evolução para esta condição”, explica Firmino Machado, investigador do ISPUP e coordenador do projeto.

O MIND delineou cinco intervenções gratuitas, não farmacológicas, para ajudar a prevenir o aparecimento de demência num conjunto de utentes (50, no total) do ACeS Porto Ocidental. Três destas intervenções são apontadas pela literatura como sendo efetivas para prevenir a deterioração cognitiva de pessoas que estão em risco de desenvolver demência.

O programa do projeto consiste em: treino cognitivo (2 vezes por semana, durante 1 hora cada sessão); exercício físico dinamizado por um fisiologista do desporto (2 vezes por semana, durante 1 hora cada sessão); promoção de uma alimentação saudável (1 vez por mês, durante 4 horas), com aulas de culinária e incentivo à confeção de uma receita saudável e posterior degustação da mesma; avaliação auditiva no início do programa (com oferta de aparelho auditivo, se necessário); e adaptação à perda de memória (1 vez por mês, durante 1 hora), em que se ensina os utentes a usarem estratégias para lidarem com a perda de memória ou perda de outras funções cerebrais.

As intervenções com os utentes da zona do Porto Ocidental estão a ser desenvolvidas nas Unidades de Cuidados na Comunidade Cuidar e da Boavista e na Associação “A Beneficência Familiar – Associação de Socorros Mútuos”.

Segundo Firmino Machado, “as avaliações dos utentes do ACeS Porto Ocidental arrancaram na segunda semana de setembro e o objetivo é que se estendam por dez meses. A conceptualização do projeto aconteceu em janeiro deste ano e em julho deu-se o recrutamento dos utentes”.

No dia 20 de setembro, o projeto recebeu uma distinção de mérito pela Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC) – uma das entidades parceiras do MIND – que lhe atribuiu também um apoio financeiro. Nesse mesmo dia teve lugar a apresentação formal do projeto, a qual reuniu, pela primeira vez, todos os parceiros do programa.

Para além do ISPUP e da SPAVC, são parceiros do MIND a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, o Centro Hospitalar Universitário do Porto, o Centro Hospitalar Universitário S. João, a União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, a Associação Beneficiência Familiar, a Neuroinova, a Widex, a Fruta Feia e a Entreajuda.

É de sublinhar que a demência é diagnosticada em aproximadamente 1 em cada 100 pessoas, com mais de 55 anos, em Portugal. Neste momento, não existem ainda medicamentos que possam ajudar a impedir a evolução de défice cognitivo ligeiro para demência.

Imagem: Unsplash/WJ

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