ISPUP
A investigação prévia no estudo da distribuição das fracturas osteoporóticas e da osteoporose em Portugal condicionou o interesse pelo estudo dos determinantes precoces da osteoporose.
Os factores modificáveis associados a uma aquisição sub-óptima de massa óssea durante a adolescência são alvos de interesse na prevenção de fracturas futuras. Em parte devido a questões metodológicas, a investigação sobre a associação entre a gordura e a qualidade óssea na adolescência tem tido resultados contraditórios. Durante muito tempo, foi sugerido que a gordura corporal tinha um efeito positivo no ganho ósseo. No entanto, trabalhos recentes indicaram que o tecido adiposo tem um efeito deletério na formação óssea, possivelmente mediado pela inflamação sistémica.
Para o conhecimento dos mecanismos causais que ligam a gordura à aquisição da densidade mineral óssea, é necessário compreender de que forma esta associação pode ser mediada pela reabsorção óssea aumentada e traduzida pelos marcadores de remodelação óssea.
A descoberta do sistema do receptor activator of nuclear factor kB (RANK) representou um grande avanço na compreensão da regulação da osteoclastogénese. As citoquinas envolvidas nesta regulação poderão ser indicadores úteis da doença óssea metabólica e como marcadores de formação óssea não óptima, resultante de um processo inflamatório.
Com este projecto pretendemos compreender, com uma abordagem longitudinal, se a gordura se associa à osteoclastogénese e à remodelação óssea em geral durante a adolescência e se este processo pode ser mediado por uma componente inflamatória. Em última análise, pretendemos avaliar o efeito deste potencial mecanismos em dois resultados principais: a densidade mineral óssea no final da adolescência e o aumento na massa óssea entre os 13 e os 17 anos.
Objectivos
Usando dados prospectivos de uma coorte de adolescents nascidos em 1990 os nossos objectivos principais são:
1. Compreender se a inflamação sistémica é um passo intermédio entre a obesidade e a acumulação óssea sub-óptima, usando a densidade mineral óssea e os marcadores de remodelação óssea como resultados2. Conhecer os factores responsáveis pela diferença entre estudostransversais e longitudinais no sentido da associação entre gordura edensidade mineral óssea.
Participantes e medições:
Serão usados dados colhidos de adolescentes portugueses nascidos em 1990, recrutados e seguidos no âmbito do estudo Epidemiological Health Investigation of Teenagers in Porto (EPITeen). As avaliações basal e de seguimento incluíram a recolha extensa de dados, incluindo questionários auto-aplicados e exame físico, usando o mesmo protocolo nas duas avaluações.A massa óssea foi estimada através da densidade mineral óssea (g/cm2) no antebraço distal. A avaliação antropométrica compreendeu o peso, a estatura e a distribuição da gordura: perímetros da cintura, da anca e do braço. A massa gorda e a massa livre de gordura foram obtidas por impedância bioelétrica. O estadio pubertário foi estimado através da idade da menarca nas raparigas e da concentração sérica de testosterona nos rapazes.
Nas duas avaliações foram colhidas amostras de sangue venoso após jejum de 12 horas. Foram quantificados o cálcio, a fosfatase alcalina, e proteína C-reactiva de elevada sensibilidade.
Para os objectivos presentes, seleccionaremos 600 participantes (300 com excesso de peso e 300 normoponderais) e determinaremos as concentrações séricas de leptina, osteoprotegerina, receptor activator of nuclear factor kB ligand. O pró-peptídeo N-terminal do colagéneo tipo I e o domínio CTX do telopeptídeo C-terminal da cadeia α1 do colagéneo tipo I.
Planeámos as seguintes etapas analíticas:
1. Quantificar as associações entre a massa gorda e1.1. mediadores da formação óssea secretados pelos adipócitos (leptina e estradiol)1.2. um marcador genérico de inflamação (proteína C-reactiva)1.3. citoquinas marcadoras da osteoclastogénese (OPG, RANKL, e razão OPG/RANKL)
2. Estimar a magnitude das associações entre a inflamação sistémica (proteína C-reactiva) e2.1. marcadores da remodelação óssea e o equilíbrio entre estes2.2. citoquinas marcadoras da osteoclastogénese, como possíveisintermediários causais entre a inflamação sistémica e a reabsorção óssea
3. Quantificar as associações entre a massa óssea (DMO aos 13 e aos 17 anos e a sua variação) e3.1. um marcador genérico de inflamação1.3. citoquinas marcadoras da osteoclastogénese
4. Faremos a comparação entre as abordagens transversal e longitudinal para estimar o impacto do desenho do estudo.
Usando uma coorte de base populacional de adolescentes com a mesma idade, esta investigação trará um contributo para a compreensão da optimização da qualidade óssea, e consequentemente para se compreender se é expectável que a definição de estratégias populacionais desenhadas para combater a obesidade tenha impacto na protecção das fracturas osteoporóticas.