Reproduzir ou contrariar o destino social? Estudo longitudinal de uma geração nascida nos anos 90 do século XX em Portugal

Tipo de projeto:

Nacional

Referência:

PTDC/IVC-SOC/4943/2012

Instituições participantes:

ISPUP; Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas; Centro de Administração e Políticas Públicas (CAPP/ISCSP/UTL); Unidade de investigação e desenvolvimento Cardiovascular (UIDC/FM/UP)

Fontes de financiamento:

FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia

Data de início:

01/01/2013

Data (prevista) de conclusão:

30/11/2015

Linha de investigação:

L2 - Sindemias, desigualdades em saúde e populações vulneráveis

Laboratório de investigação:

Adversidade social e desigualdades em saúde

Resumo:

O projeto de investigação que se propõe consiste num estudo longitudinal que pretende analisar, na perspetiva conjugada das ciências sociais e da saúde pública, as trajetórias individuais e sociais de uma coorte de indivíduos nascidos em 1990 e inquiridos aos 13, aos 17, aos 21e aos 23/24 anos.

Este projecto associa uma equipa de investigação do ISCSP, com sociólogos e outros cientistas sociais com especialidades em diferentes áreas – trabalho, educação, família, género, classes sociais, saúde, qualidade de vida, capital social e redes sociais – a uma equipa de investigação do ISPUP, Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. Esta última equipa lançou o projeto Epiteen em 2003-2004 constituindo uma base de dados a respeito de indivíduos nascidos em 1990, que tinham 13 anos e que frequentavam todas as escolas do Porto (públicas e privadas). A base de dados foi sendo enriquecida por inquirições posteriores (2007, 2011) incluindo no momento actual 2943 indivíduos (http://higiene.med.up.pt/index.php?detalhes=52&id=noticias).

 

São três os objetivos fundamentais do projeto. Primeiro, queremos avaliar de que forma as condições sociais de origem marcam as trajetórias e as diferentes oportunidades dos jovens, definindo-lhes destinos diferentes. Pretendemos saber como se reproduzem as vantagens ou desvantagens da origem social, analisar efeitos inter-geracionais e verificar qual o peso relativo de factores como escolaridade, género, profissão, capital social ou factores subjectivos e motivacionais nesses percursos de vida. Esta avaliação associa de forma estreita as trajectórias sociais com saúde, estilos e qualidade de vida. Em segundo lugar, estamos particularmente interessado/as em avaliar os factores que contribuem para que se contrarie o destino, para que se escape a trajectórias modais, isto é, para estudar de forma sistemática os trajectos de mobilidade social ascendente, procurar as causas que os explicam, associando-os também à dimensão da saúde. O terceiro objetivo relaciona-se com os efeitos da crise económica e financeira dos últimos anos nas trajectórias sociais e individuais e como esta nelas eventualmente interfere introduzindo mudança de percursos, de realidades e de expectativas.
Para concretizar estes objetivos, numa primeira etapa, analisaremos a base de dados existente com as informações recolhidas aos 13, aos 17 e aos 21 anos. Numa segunda etapa, replicaremos o inquérito aos mesmos indivíduos aos 23/24 anos acrescentando novas dimensões de análise. Numa terceira etapa, entrevistaremos um grupo seleccionado de indivíduos com o objetivo de identificar, comparando trajetórias, que fatores contribuem para a mobilidade social ascendente, horizontal ou descendente e para a resistência e/ou adaptação às consequências da crise económica e financeira.

Os estudos longitudinais constituem um método muito robusto para analisar práticas, atitudes sociais e individuais, mudança e mobilidade social. Ao contrário dos inquéritos de aplicação única estes apresentam grandes vantagens: 1) deixa de haver problemas de comparação das amostras, problemas que surgem habitualmente em inquéritos que se replicam mas não à mesma população 2) são avaliados os efeitos de trajetória, porque se acompanha o mesmo indivíduo ao longo da vida, sendo possível detectar mudanças de percurso 3) tornam-se os instrumentos por excelência de “medida” da mobilidade social sobretudo quando, como é o caso, permitem a comparação entre gerações.

Definimos ainda, de forma mais específica, quatro linhas de investigação a explorar.
Na primeira, desenvolveremos a análise das relações entre educação, trabalho, mobilidade e desigualdade social. Sabemos que Portugal tem taxas de abandono escolar precoce ainda elevadas, mas que, por outro lado há notórios efeitos de mobilidade ascendente entre pais e filhos quanto aos níveis de instrução, dados também os baixíssimos níveis de escolaridade dos pais. Que efeitos têm essa mobilidade na empregabilidade dos jovens? O que pesa mais: origem social ou escolaridade atingida?

Género, efeitos de género, percursos biográficos e constituição de família serão, em segundo lugar, outras temáticas fortes a explorar. Sabemos que as mulheres jovens têm melhores desempenhos escolares, em média, do que os jovens rapazes e procurar explicar essas diferenças será decerto relevante. Mas interessa também avaliar que efeitos têm esse sucesso diferenciado na inserção no mercado de trabalho e na constituição de família?

Em terceiro lugar, saúde, bem-estar subjetivo, qualidade de vida e seus determinantes sociais constitui outra das linhas centrais a desenvolver procurando relacionar certas patologias específicas com antecedentes sociais e familiares.
Finalmente, capital social, cidadania e redes sociais será outra das linhas de investigação a explorar, procurando saber como são mobilizados pelos jovens os recursos e redes de relações disponíveis, avaliando também capacidades de intervenção na esfera pública e efeitos da crise.

Equipa de investigação