A Universidade do Porto vai arrancar, já no início de junho, com a realização de um rastreio serológico individual aos funcionários docentes e não docentes que se voluntariarem para o efeito. Trata-se da primeira fase de um rastreio, inédita entre as instituições de Ensino Superior portuguesas, que tem como objetivo aferir o grau de exposição da comunidade académica ao novo coronavírus (SARS-CoV-2).
Conforme anunciado anteriormente, o rastreio será liderado pelo Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP) e consistirá na realização de um “teste rápido” – análise de uma gota de sangue, recolhida através de uma picada no dedo – que, em cerca de dez minutos, “diz” se a pessoa já produziu anticorpos – das classes IgM e IgG – específicos para o vírus, e, no caso de resposta afirmativa, se a infeção é recente ou antiga. Será ainda aplicado um breve inquérito epidemiológico para avaliar a possibilidade de contacto com casos suspeitos ou confirmados de COVID-19.
Aos membros da U.Porto cujo teste indique a presença de anticorpos da classe IgM (indicando uma infeção recente), será disponibilizada a possibilidade de realizarem no próprio local um teste de diagnóstico gratuito à COVID-19, através de zaragatoa.
A recolha e processamento das amostras serão realizados por médicos, enfermeiros e técnicos do ISPUP. Os resultados dos testes são confidenciais e comunicados apenas ao próprio funcionário.
Ainda que esteja previsto estender os testes aos estudantes, nesta primeira fase, o rastreio serológico vai então abranger apenas os trabalhadores docentes e não docentes e terá lugar, de forma faseada, nos três polos da Universidade, onde será montada – em locais a designar – uma estrutura especialmente criada para o efeito.
A primeira “ronda” de testes vai decorrer de 1 a 12 e junho, no Polo Central, abrangendo faculdades como Belas Artes (FBAUP), Direito (FDUP), Farmácia (FFUP) e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS, mas também o Centro de Desporto da U.Porto (CDUP-UP), ou os Serviços de Ação Social da U.Porto (SASUP).
De 15 a 26 de junho, será a vez do Polo da Asprela, que inclui, por exemplo, as faculdades de Desporto (FADEUP), Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP), Economia (FEP), Engenharia (FEUP), Medicina Dentária (FMDUP), Medicina (FMUP) e Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP).
A última “ronda” desta primeira fase terá lugar de 29 de junho a 10 de julho e terá como alvo a comunidade do Polo do Campo Alegre, onde se incluem as faculdades de Arquitetura (FAUP) Ciências (FCUP) e Letras (FLUP).
Os funcionários que desejarem participar no rastreio devem manifestar a sua disponibilidade junto da Unidade de Saúde Ocupacional, enviando um email para s_ocupacional@med.up.pt com o seu nome, número mecanográfico, unidade orgânica e contato telefónico.
Os interessados serão depois contactados para agendarem a realização do teste, de acordo com a sua disponibilidade e o cronograma anunciado. Por questões de organização e segurança, o teste será feito unicamente após confirmação de agendamento por parte da Unidade de Saúde Ocupacional.
Como forma de ensaiar todos os procedimentos necessários ao rastreio, a iniciativa começou já a ser “testada” esta quinta-feira, numa amostra de funcionários da Reitoria que já se encontram em trabalho presencial.
Coube, de resto ao próprio Reitor da U.Porto fazer um dos primeiros testes, cujo resultado deu… negativo. “É importante que as pessoas percebam que isto não custa nada. É uma picada simples e dá-nos informação em poucos minutos”, referiu António de Sousa Pereira.
Relativamente à importância do rastreio à comunidade académica, o Reitor lembrou que “estamos numa fase em que temos que perceber como é que reagimos à doença enquanto população. Sabemos que há muita gente que teve contacto e que não desenvolveu a doença e que provavelmente adquiriu imunidade, mas tudo isto está na base da suposição. Este trabalho vai-nos permitir ter um conhecimento muito mais profundo de como, enquanto coletivo, reagimos ao contacto com o vírus”.
Para António de Sousa Pereira, os resultados do rastreio à comunidade U.Porto podem igualmente “ajudar a perceber como é que a população portuguesa está a reagir ao vírus”, o que permitirá “ajudar a tomar medidas com muito mais segurança no futuro”.
O Reitor explicou ainda que, uma vez concluído o rastreio aos funcionários, “vamos avançar com os estudantes”, devendo o trabalho estar concluído “até final do ano”. “A nossa intenção é tirar uma fotografia desta população agora, mas ir repetindo essa fotografia ao longo do ano, para perceber como é que a comunidade evoluiu e se foi adquirindo imunidade ao vírus”, rematou.
A mesma ideia foi vincada por Henrique Barros, presidente do ISPUP e coordenador deste estudo, que enalteceu a importância deste rastreio para aprofundar o conhecimento científico sobre a Covid-19.
“Os trabalhadores da Universidade do Porto, ao disporem-se voluntariamente para fazerem o teste e ao repeti-lo passado alguns meses, vão ajudar-nos a perceber se, de facto, se perpetua essa memória [imunidade], ou se, pelo contrário, ela se desvanece e desaparece, tornando-nos de novo suscetíveis. E isto é importante porque pode dar-nos uma ideia sobre o que podemos esperar sobre a vacina”, referiu o epidemiologista, antes de rematar: “A nossa comunidade está a ajudar a que se faça Ciência, a que se faça Conhecimento”.
Recorde-se que a U.Porto é assim uma das primeiras instituições em Portugal a avançar com a realização de testes serológicos para aferir o grau de exposição da sua comunidade ao novo coronavírus. Numa recente visita à Universidade, o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, já tinha deixado elogios à iniciativa, considerando que a mesma “merece ser replicada nas outras instituições do país”.