O estudo “COVID-19 vaccine effectiveness against symptomatic disease and severe outcomes, 2021-2022: a test-negative case-control study” – recentemente publicado na Public Health – levado a cabo por uma equipa onde se inclui Cátia Brazete, Ana Aguiar e Raquel Duarte, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), concluiu que a efetividade das vacinas contra a COVID-19 aumenta após a administração de uma dose de reforço e diminui para menos de 50% passados 3 a 6 meses desde a última toma.
Estudos recentes do mundo real demonstraram que as vacinas contra a COVID-19 proporcionam, uma forte proteção a curto prazo, contra a vírus SARS-COv-2 e contra as suas mais graves consequências, nomeadamente o internamento hospitalar e até a morte. O esquema de vacinação e as medidas não-farmacológicas adotadas resultaram num menor número de indivíduos a necessitar de internamento hospitalar, mesmo em novas vagas com alta incidência do vírus.
Recentemente, outras preocupações têm surgido devido à possível redução da efetividade das vacinas contra novas variantes e, mais ainda, porque existe evidência científica a indicar que a efetividade das vacinas diminui ao longo do tempo.
Resultados de outros estudos, que pretendiam avaliar a efetividade das doses de reforço contra os sintomas mais graves da variante Omicron, são inconsistentes. Alguns estudos sugeriram que as vacinas ofereciam forte proteção contra esta variante, à semelhança da proteção que ofereciam contra variantes anteriores. Outros estudos, por sua vez, reportaram uma redução da efetividade das vacinas contra a Omicron e com o passar do tempo, após a toma da última dose.
No presente estudo, esta equipa propôs-se a avaliar a efetividade das vacinas contra a COVID-19 na prevenção da doença sintomática e doença severa. Para tal, estudaram um grupo de 1059 adultos, da região do Alto Minho, com uma média de idades de 56 anos, 58% dos quais, mulheres. Estes participantes apresentavam pelo menos um sintoma incluído na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a COVID-19 e recorreram a um serviço de urgência de um hospital público no Alto Minho entre 1 de novembro de 2021 e 2 de março de 2022 (período correspondente à quinta vaga da Covid em Portugal, dominada pela variante Omicron). Importa ainda realçar que foi feita distinção entre participantes extremamente vulneráveis, nomeadamente indivíduos imunodeprimidos ou com doença respiratória grave, pois, nestes casos, o risco de desenvolver sintomas graves após infeção por COVID-19 É superior.
O estudo sugere que a infeção por COVID-19 terá menor probabilidade de levar à hospitalização, ao internamento nos cuidados intensivos, ou até à morte, em pacientes que tomaram uma dose de reforço da vacina, quando comparados com aqueles que apenas completaram o esquema vacinal primário, que correspondia às duas primeiras doses para as vacinas comummente denominadas Pfizer, Spikevax (antiga Moderna) e AstraZeneca e uma única dose para a vacina Jcovden (antiga Janssen).
Comparada com a efetividade do esquema vacinal primário, quando completo há 6 meses ou mais, a efetividade da toma de uma dose de reforço, inoculada entre 14 a 132 dias (cerca de 4 meses) após essa última toma foi superior em 71%. Isto diz-nos, essencialmente, que a toma da dose de reforço preveniu 71 em 100 possíveis infeções sintomáticas.
O esquema vacinal primário completo atingiu o seu pico de efetividade quando a segunda dose foi tomada entre 14 a 90 dias (3 meses) após a primeira, chegando até aos 85%, ou seja, prevenindo 85 em 100 infeções sintomáticas. Importa também referir que a efetividade da vacina diminui para 34% quando o período desde a última toma ultrapassou os 6 meses.
Em suma, os resultados deste estudo do ISPUP sugerem-nos que a efetividade das vacinas contra a COVID-19 diminui para menos de 50% no período de 3 a 6 meses após completar o esquema vacinal primário e aumenta após a toma de uma dose de reforço. “Assim sendo, concluímos que este período, entre 3 a 6 meses, seria o mais apropriado para administrar um reforço da vacina e restaurar a imunidade contra o vírus, que vai diminuindo ao longo do tempo. Este reforço é particularmente importante nos indivíduos mais vulneráveis, nomeadamente os que sofrem de doença respiratória severa ou imunodepressão.”, salienta Cátia Brazete, a investigadora principal.