Esta foi uma das principais conclusões do estudo “Atraso no diagnóstico da tuberculose pulmonar em Portugal – Estudo de caso qualitativo com grupos vulneráveis”, divulgado pelo ISPUP e pela DGS no Dia Mundial da Tuberculose.
Na passada segunda-feira, 24 de março, o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) apresentou publicamente os resultados do estudo “Atraso no diagnóstico da tuberculose pulmonar em Portugal – Estudo de caso qualitativo com grupos vulneráveis”. A apresentação decorreu na Casa do Infante, no Porto, durante o evento “Tuberculose em Portugal: epidemiologia e estratégias”, organizado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Coordenada pela investigadora do ISPUP, Raquel Duarte, e financiada pela DGS, esta investigação revelou que o atraso no diagnóstico da tuberculose pulmonar em Portugal permanece um obstáculo significativo para a prevenção e tratamento eficaz da doença. Os resultados indicam que o tempo médio entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico ultrapassa os 60 dias, comprometendo o início precoce do tratamento e aumentando o risco de transmissão.
O estudo – que envolveu um total de 97 participantes durante um ano, incluindo pessoas com tuberculose pulmonar, profissionais de saúde e equipas de proximidade – identificou múltiplas barreiras que dificultam o diagnóstico precoce. Entre as principais dificuldades estão a falta de literacia em saúde, o estigma associado à doença, obstáculos no acesso aos serviços de saúde e a demora na suspeita clínica por parte dos profissionais. Mais de metade dos participantes (54,5%) relataram falta de conhecimento sobre a tuberculose e a tendência a associar os sintomas a doenças comuns, o que contribui para o adiamento da procura de cuidados médicos.
Para além das barreiras individuais, a investigação também identificou desafios estruturais no sistema de saúde, como a demora no encaminhamento para exames e os tempos de espera prolongados para consultas. A situação é agravada por desigualdades no acesso ao diagnóstico, especialmente em grupos vulneráveis, como pessoas em situação de pobreza ou marginalização social, que enfrentam barreiras burocráticas e sociais adicionais.
O estudo apresentou ainda algumas recomendações práticas para reduzir o tempo até ao diagnóstico, incluindo campanhas de sensibilização sobre os sintomas da tuberculose e estratégias para melhorar a formação dos profissionais de saúde. Sugere, também, a criação de equipas móveis para rastrear e apoiar populações em risco, além de medidas que facilitem o acesso aos serviços de saúde, independentemente da condição socioeconómica ou do estatuto migratório.
Apesar dos desafios identificados, a equipa de investigação sublinha a importância de uma resposta coordenada e eficaz que envolva profissionais de saúde, decisores políticos e a sociedade em geral. Investir na literacia em saúde, reduzir barreiras de acesso e reforçar a proximidade dos serviços são compromissos essenciais para salvar vidas e interromper a cadeia de transmissão da tuberculose em Portugal.