Será que podemos falar em obesidade metabolicamente saudável ou é só uma questão de tempo até que surjam complicações? Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que, embora alguns indivíduos com obesidade não apresentem alterações metabólicas, parece ser uma questão de tempo até que as alterações habitualmente resultantes da acumulação de gordura se desenvolvam. A obesidade não é inofensiva, mesmo que o possa parecer nos primeiros anos da doença.
De acordo com Vanda Craveiro, primeira autora do estudo, coordenado por Joana Araújo, “apesar de habitualmente a obesidade aumentar o risco de se desenvolverem alterações metabólicas – como por exemplo, níveis elevados de pressão arterial, lípidos e glicose – algumas pessoas com a doença apresentam estes indicadores em níveis considerados normais. Por essa razão, surgiu, nos últimos anos, o conceito de obesidade metabolicamente saudável”.
“Mas este é um termo controverso. Para se compreender melhor esta questão, é necessário acompanhar estes indivíduos com obesidade ao longo do tempo, para avaliar a evolução do seu peso e dos parâmetros metabólicos. Precisamos de averiguar se este perfil metabólico aparentemente saudável é apenas uma situação pontual ou se estas pessoas têm características que lhes permitem reduzir o risco associado à obesidade”, diz.
Usando dados da coorte EPITeen – um estudo longitudinal que acompanha, desde 2003, um conjunto de indivíduos nascidos em 1990 – os autores estudaram a evolução do peso e o estado metabólico de 1040 pessoas desde a adolescência até à idade adulta.
Foram analisados dados relacionados com a saúde destes participantes, aos 13 e aos 24 anos, e avaliado o seu índice de massa corporal (IMC), ao longo de 11 anos. Os jovens foram categorizados de acordo com o seu peso – “normal” ou “excesso de peso” – e com o estado da sua saúde metabólica.
22% dos indivíduos com excesso de peso desenvolveram alterações metabólicas
Cerca de 22% dos jovens da amostra que, aos 13 anos de idade, apresentavam excesso de peso, mas não tinham alterações metabólicas, desenvolveram, ao longo dos 11 anos de seguimento, pelo menos uma alteração metabólica, mantendo o peso excessivo.
Para a equipa do estudo publicado na revista Nutrition, Metabolism & Cardiovascular Diseases,“os nossos resultados vieram demonstrar que a obesidade não é inofensiva. Apesar de alguns indivíduos com obesidade apresentarem, no início da adolescência, níveis normais de parâmetros metabólicos, os resultados sugerem que é só uma questão de tempo até que venham a desenvolver complicações na vida adulta, como, por exemplo, colesterol e triglicerídeos elevados, diabetes ou hipertensão”.
Para além da duração da obesidade, a distribuição da gordura corporal, como por exemplo, uma maior acumulação de gordura no tronco, mostrou contribuir para estas alterações metabólicas.
A par de Vanda Craveiro e de Joana Araújo, também Elisabete Ramos participou na investigação designada Metabolically healthy overweight in young adulthood: is it a matter of duration and degree of overweight?.
Imagem: Unsplash/i yunmai