Conhecem os portugueses o plano de contingência do seu local de trabalho? Que espaços frequentam quando saem de casa por motivos não profissionais? Os dados mais recentes do estudo Diários de uma Pandemia mostraram, por exemplo, que quase um quarto das pessoas que regressaram ao trabalho presencial, mencionaram não ter conhecimento da recomendação de permanecerem em casa, no caso de terem sintomas sugestivos da COVID-19.
Por outro lado, metade dos indivíduos que têm crianças a seu cargo, optaram por não as levar de volta aos estabelecimentos de ensino que, entretanto, reabriam no país. Verificou-se que foram as pessoas com 60 ou mais anos de idade que mais estiveram em esplanadas ou em estabelecimentos não essenciais.
Os resultados agora divulgados incluem as respostas de 4.543 participantes que, entre os dias 25 de maio e 5 de junho de 2020, responderam ao módulo de perguntas sobre o regresso ao trabalho e à vida social fora de casa.
Conhecimento das medidas de contingência no local de trabalho
Mais de três quartos dos inquiridos que se encontravam a trabalhar fora de casa ou em regime de teletrabalho referiram ter sido divulgado um plano de contingência para a COVID-19 no seu local de trabalho.
No entanto, e no que se refere a medidas de contenção aplicadas no espaço laboral, 24% dos indivíduos que trabalharam fora, mencionaram não ter conhecimento da recomendação de permanecerem em casa, no caso de terem sintomas sugestivos da COVID-19, ou indicaram que essa orientação não existia. Olhando para os setores de atividade profissional, observou-se que foram os profissionais do setor da saúde que mais referiram não existir ou desconhecerem esta medida.
Para Raquel Lucas, investigadora da equipa dos Diários de uma Pandemia, “este resultado foi bastante surpreendente, porque uma das regras básicas para prevenir a transmissão é não ir trabalhar quando se está doente. No entanto, vimos que quase um quarto das pessoas que trabalharam fora de casa, e particularmente os profissionais da área da saúde, não identificaram a existência dessa recomendação”.
Percebeu-se também que, entre as pessoas que tinham trabalhado fora, 29% não sabiam se as superfícies do seu espaço de trabalho tinham sido higienizadas ou consideravam que não tinham sido corretamente higienizadas. Adicionalmente, 18% mencionaram não ter acesso gratuito a máscara, em espaços fechados, ou não saber se esta lhes seria fornecida.
O estudo demonstrou existir um gradiente social claro relativamente ao conhecimento das medidas de contingência no local de trabalho: foram os inquiridos com rendimentos mais baixos que mais referiram a ausência ou desconhecimento das várias estratégias de contenção da COVID-19 aplicadas em contexto laboral.
Reabertura de creches, jardins de infância e escolas
Entre os participantes que tinham a seu cargo crianças, cujos estabelecimentos de ensino reabriram (berçários, creches, jardins de infância e escolas), mais de metade optaram por não levar os menores de volta a esses espaços.
Observou-se que metade dos inquiridos, com ou sem crianças, revelou bastante preocupação quanto à possibilidade de a reabertura dos estabelecimentos de ensino aumentar o risco de os mais novos ou outros membros da família serem infetados pelo novo coronavírus. Contudo, esta preocupação foi menor entre os indivíduos mais escolarizados.
Saídas de casa e vida social
Mais de três quartos dos participantes nos Diários de uma Pandemia mencionaram sair de casa, pelo menos uma vez, para passear ou fazer exercício físico. Este foi o motivo mais apontado para sair de casa, seguido das visitas a familiares ou amigos e da ida à praia ou a espaços verdes. Os mais novos foram os que mais mencionaram estas duas últimas razões para sair de casa.
Acrescente-se que as visitas a familiares e a amigos foram mais frequentes na região Norte do país, ao passo que as idas à praia e a frequência de espaços verdes foi mais comum entre os residentes da Área Metropolitana de Lisboa.
De sublinhar que menos de metade dos participantes no estudo estiveram em esplanadas (40%), foram a estabelecimentos não essenciais (31%) ou frequentaram o interior de restaurantes ou cafés (28%). Foram os indivíduos com 60 ou mais anos de idade que reportaram fazer mais este tipo de saídas, o que, de acordo com Raquel Lucas, poderá estar relacionado, por um lado, com uma perceção de menor risco em conjunto com uma maior necessidade de sair de casa para socializar e, por outro, com a maior proximidade física a estes espaços, quando comparados com os espaços de lazer ao ar livre como a praia.
Ainda, 14% dos inquiridos mencionaram ter recorrido aos serviços de saúde presenciais por motivos não relacionados com a COVID-19 e apenas 8% usaram os transportes públicos, sendo a sua utilização mais frequente entre os mais novos e residentes da Área Metropolitana de Lisboa.
Continue a participar nos Diários de uma Pandemia!
O estudo Diários de uma pandemia está, desde o dia 23 de março, a recolher informação sobre o modo como os Portugueses atuam em relação a um conjunto de situações que poderão influenciar o curso da pandemia de COVID-19 em Portugal, em parceria com o jornal PÚBLICO.
Para produzirmos conhecimento científico de relevo nesta área, precisamos da sua colaboração. Por isso, continue a participar, dedicando 5 a 10 minutos do seu tempo para responder às questões do nosso inquérito, que, desde o dia 25 de maio, passou a ser semanal.
Pode consultar o relatório relativo aos resultados divulgados hoje, aqui, e os resultados referentes às semanas anteriores do estudo, aqui.