Um estudo observacional, conduzido por Joana Pinto da Costa, Vânia Magalhães, Joana Araújo e Elisabete Ramos – investigadoras do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) – conclui que um padrão alimentar caracterizado por uma ingestão energética mais baixa na adolescência pode contribuir para um melhor perfil cardiometabólico.
A prevalência do excesso de peso/obesidade entre crianças e adolescentes tem vindo a aumentar nas últimas décadas. A obesidade infantil está associada, a curto prazo, a um aumento dos fatores de risco que podem prejudicar a saúde cardiometabólica e, a longo prazo, com o risco acrescido de desenvolver doenças não transmissíveis (por exemplo, doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crónicas, hipertensão, cancro, diabetes…) que são, atualmente, a principal causa de morte, no mundo.
A restrição calórica tem vindo a ser associada, na literatura, a uma melhor saúde cardiometabólica, sendo, por isso, uma potencial estratégia preventiva das doenças não transmissíveis. Ainda assim, os dados disponíveis em humanos são na sua maioria resultados de estudos levados a cabo por curtos períodos de tempo e para dietas específicas ou grupos populacionais restritos.
Nesse sentido, este estudo destaca-se dos demais pelo seu caracter observacional e longitudinal, avaliando os mesmos participantes aos 13 e aos 21 anos, com o objetivo de perceber se os indivíduos com um padrão alimentar caracterizado por uma ingestão energética mais baixa na adolescência tinham um melhor perfil cardiometabólico nessa fase da vida, bem como na transição para a idade adulta, em comparação com indivíduos pertencentes a outros padrões alimentares.
Para tal, foram utilizados dados recolhidos aos 13 e aos 21 anos, de indivíduos nascidos em 1990, no âmbito das avaliações da coorte EPITeen. Através das respostas a um questionário sobre hábitos e comportamentos alimentares, aos 13 anos foram identificados quatro padrões alimentares: o padrão mais saudável, caracterizado pelo consumo mais elevado de pescado e hortofrutícolas; o padrão de produtos lácteos, caracterizado pelo consumo mais elevado de lacticínios; o padrão de doces e fast food, caracterizado pelo consumo mais elevado de fast food, doces e refrigerantes e o padrão da ingestão energética mais baixa, caracterizado pelo consumo mais baixo da maioria dos grupos alimentares.
Importa ainda ressalvar que um estudo previamente realizado com dados da mesma coorte mostrou que as características dos padrões alimentares identificados na adolescência tendem a manter-se semelhantes nos jovens adultos, sugerindo que os participantes do padrão alimentar com uma ingestão energética mais baixa aos 13 anos mantiveram uma ingestão mais baixa aos 21 anos.
Ainda de acordo com a informação recolhida, a ingestão energética média diária dos participantes era de 2394 kcal aos 13 anos e de 2242 kcal aos 21 anos. Nos indivíduos que pertenciam ao padrão caracterizado por uma ingestão energética mais baixa, a ingestão energética diária foi 25% inferior aos 13 anos (1807 kcal) e 5% inferior aos 21 anos (2129 kcal).
Os adolescentes que pertenciam ao padrão caracterizado por uma ingestão energética mais baixa, apresentaram níveis mais baixos de glicose, insulina, triglicerídeos e pressão arterial sistólica (melhor perfil metabólico) na adolescência.
Aos 21 anos, todavia, as diferenças encontradas entre padrões não foram consideradas estatisticamente relevantes para que se pudesse estabelecer uma relação do padrão alimentar identificado na adolescência com o perfil cardiometabólico na transição para a idade adulta, provavelmente devido à diluição das diferenças na ingestão energética entre padrões.