Um estudo – Sleep timing behaviour, sleep duration and adherence to obesogenic dietary patterns from pre-school to school age: results from the Portuguese birth cohort Generation XXI – publicado recentemente no Journal of Sleep Research, sugere que crianças que têm horários de sono irregulares podem estar em risco de desenvolver padrões alimentares menos saudáveis.
Uma duração de sono insuficiente poderá aumentar o risco a doenças cardio-metabólicas e ganho de peso. Dormir pouco na infância poderá ainda perturbar os níveis hormonais, tais como cortisol, grelina, leptina e tolerância à glicose, promovendo hábitos alimentares inadequados, com o consumo de alimentos nutricionalmente pobres, mas com alto teor energético. Além disso, também os horários de deitar e acordar poderão afetar a qualidade da dieta, mesmo para as crianças que mantenham uma duração de sono adequada, influenciando assim a sua saúde.
Assim, o presente estudo, liderado por Sofia Vilela – investigadora doutorada do Laboratório “Nutrição e Saúde Cardiometabólicas” – com co-autoria de Andreia Vaz e Andreia Oliveira – investigadora doutorada do Laboratório Comportamentos alimentares e obesidade infantil – teve como objetivo avaliar a influência da duração do sono e dos horários de deitar e acordar aos 4 anos na adesão a um padrão alimentar menos saudável aos 7 anos. A investigação utilizou dados de 5286 crianças da coorte de nascimento portuguesa de base populacional, Geração XXI, avaliadas aos 4 e 7 anos de idade.
Aos 4 anos, as crianças foram divididas em dois grupos de acordo com a recomendações da National Sleep Foundation (Fundação Nacional do Sono Americana): sono noturno de curta duração (≤10 horas) e sono noturno de pelo menos 10 horas. Em relação aos horários de deitar e acordar aos 4 anos, quatro categorias foram criadas: “Deitar cedo e Acordar cedo”, “Deitar cedo e Acordar tarde”, “Deitar tarde e Acordar cedo” e “Deitar Tarde e Acordar tarde”.
De uma forma geral, independentemente da duração do sono, as crianças que aos 4 anos se deitavam tarde (i.e., depois das 21h45), e/ou acordavam tarde (i.e., depois das 8h00), tinham uma maior tendência de seguir uma alimentação rica em alimentos de elevada densidade energética aos 7 anos. Importa referir que o estudo mostrou que este efeito foi ainda mais marcado nos meninos. Nestes, também uma duração curta de sono aos 4 anos foi associada a uma alimentação de pior qualidade aos 7 anos.
Em suma, concluiu-se que uma duração curta do sono e, principalmente, horários mais tardios de deitar e acordar são preditores de uma alimentação menos saudável na infância, com efeitos mais marcados nos rapazes. Verificou-se também que as crianças em idade pré-escolar que dormem ou acordam tarde têm uma alimentação menos saudável aos 7 anos de idade e, uma vez mais, com impacto mais negativo nos rapazes.
“De acordo com nossos resultados, os horários de dormir mostraram mais associações consistentes do que a duração do sono em relação à padrões alimentares obesogénicos. Os resultados desta investigação destacam que a hora de deitar e acordar são fatores importantes para serem considerados pelos profissionais de saúde, pais e jovens, mais até do que a duração total do sono”, explica Sofia Vilela.