Ressalto adipocitário precoce associado a pior saúde cardiometabólica já na infância

Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que as crianças cujo ressalto adipocitário acontece precocemente apresentam, já aos 10 anos, maiores níveis de adiposidade e piores indicadores cardiometabólicos, que as podem colocar numa pior trajetória de saúde.

Durante o primeiro ano de vida, o índice de massa corporal (IMC) da criança atinge o seu máximo, decrescendo seguidamente até atingir um valor mínimo, normalmente por volta dos 5-7 anos de idade, altura em que volta a aumentar até à idade adulta. Dá-se o nome de ressalto adipocitário ao ponto mínimo que antecede o segundo aumento do IMC.

A idade em que ocorre o ressalto adipocitário tem sido descrita como um dos preditores de desenvolvimento de obesidade na adolescência e na vida adulta. Normalmente, este ressalto dá-se entre os 5 e os 7 anos de idade.

Vários estudos têm mostrado que as crianças em que o ressalto adipocitário acontece mais cedo, desenvolvem, ao longo da vida, maiores níveis de adiposidade e de obesidade, assim como piores indicadores cardiometabólicos.

Os investigadores do ISPUP avaliaram a associação entre a idade em que ocorre o ressalto adipocitário e a saúde cardiometabólica ao longo da infância, usando dados de 3372 crianças participantes na coorte Geração XXI– um estudo longitudinal que acompanha, desde 2005, cerca de 8600 crianças que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto.

“Aproveitámos a grande quantidade de informação longitudinal sobre medidas de crescimento que a coorte Geração XXI tem e avaliámos o efeito do timing do ressalto adipocitário no desenvolvimento de adiposidade e na alteração de indicadores cardiometabólicos, já aos 10 anos”, refere Ana Cristina Santos, coordenadora da investigação, publicada na revista International Journal of Epidemiology.

Mais de 40% das crianças da Geração XXI têm um ressalto adipocitário precoce

A investigação concluiu que quase metade (47,2%) das crianças experienciou este fenómeno dentro de um período considerado normal: entre os 5 e os 6 anos de idade.

No entanto, em 12,7% o ressalto adipocitário aconteceu muito precocemente (por volta dos três anos e meio) e em 29,9% das crianças este ocorreu precocemente: entre os três anos e meio e os 5 anos. Tal significa que mais de 40% das crianças da Geração XXI tiveram um ressalto adipocitário antes do que era expectável.

As crianças cujo ressalto adipocitário ocorreu mais cedo apresentaram, aos 10 anos de idade, maiores níveis de adiposidade e um pior perfil cardiometabólico, nomeadamente pressão arterial mais elevada, níveis mais altos de insulina, triglicerídeos e proteína C-reactiva e menores níveis de colesterol HDL, que é considerado um fator protetor para as doenças cardiovasculares.

“Constatámos que estas crianças, apesar de não serem doentes, exibem já aos 10 anos de idade piores indicadores cardiometabólicos, estando por isso numa situação de maior risco de virem a desenvolver resultados em saúde mais adversos, ao longo da vida”, frisa a investigadora do ISPUP.

Os próximos passos

O próximo passo consistirá em compreender quais são os determinantes que levam a que o ressalto adipocitário aconteça mais cedo do que o normal.

“Queremos identificar quais são os fatores modificáveis que determinam essa ocorrência e atuar nesses determinantes, para tentar minimizar a quantidade de crianças que têm o ressalto adipocitário mais cedo”. 

A investigação, desenvolvida no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP designa-se Adiposity rebound and cardiometabolic health in childhood: results rom the Generation XXI birth cohort. As investigadoras Maria João Fonseca e Carla Moreira também assinam o trabalho.

Imagem: Unsplash/Jamie Taylor

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