As Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto são as zonas de Portugal que registam uma maior taxa de notificação de três infeções sexualmente transmissíveis (ISTs) – a clamídia, a gonorreia e a sífilis.
É a conclusão de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que avaliou a distribuição geográfica destas três infeções no país, durante o período de 2015 a 2017.
De acordo com Cláudia Santos, primeira autora da investigação, coordenada por Ana Isabel Ribeiro, “o trabalho focou-se na avaliação destas três infeções, porque, para além de serem as ISTs de declaração obrigatória mais notificadas no nosso país, são todas elas preveníveis e curáveis, e, portanto, se detetadas atempadamente, poder-se-á evitar complicações na saúde neonatal e reprodutiva”, refere.
Os investigadores recorreram aos dados do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE), que possui o registo de todas as notificações destas infeções em Portugal. Durante os três anos analisados no estudo, foram reportados 4819 casos destas três infeções. Metade dos casos (51,5%) correspondiam a sífils, 33,2% a gonorreia e 15,3% a clamídia.
Verificou-se que, de 2015 a 2017, houve um aumento no número de notificações destas ISTs, sendo a subida mais significativa observada nos casos de clamídia. Ressalve-se que isto também ocorreu num contexto de mudança de sistema de notificação.
No que toca a distribuição geográfica das patologias, constatou-se que as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto são as que registam a maior taxa de notificação, posicionando-se acima da média nacional, o que as torna zonas de risco mais elevado. “A Área Metropolitana de Lisboa concentra a maioria dos casos reportados no país: 70% dos casos de clamídia, 57% dos casos de gonorreia e 47% dos casos de sífilis”, refere Cláudia Santos.
Os investigadores notaram também que, em Portugal, o doente típico destas três ISTs é homem, jovem e heterossexual.
Maior privação socioeconómica, urbanização e densidade populacional associados a ISTs
O estudo, publicado na revista Sexually Transmitted Diseases, concluiu ainda que as taxas de notificação parecem aumentar gradualmente com um maior nível de privação socioeconómica. De destacar também que as taxas de notificação são mais elevadas nos municípios mais urbanizados e com maior densidade populacional, em comparação com os municípios menos urbanizados e povoados, o que pode ser explicado pelo facto de haver uma maior interação entre pessoas e de estas poderem vir a ter mais parceiros sexuais.
“Através deste estudo, conseguimos perceber que há falhas no grau de cobertura destes registos. Encontrámos quase cinco mil casos reportados, mas este número deve estar ainda muito aquém dos casos reais. É, por isso, necessário sensibilizar a população para que procure os serviços de saúde, de forma a se conseguir diagnosticar as ISTs e avançar para o tratamento”, diz a investigadora. “Os resultados do trabalho são igualmente úteis para ajudar a delimitar as comunidades e grupos que merecem intervenção prioritária e desenvolver programas de saúde pública adequados a estas populações”.
Globalmente, as doenças sexualmente transmissíveis estão a aumentar, representando uma ameaça internacional para a saúde pública. A clamídia, a gonorreia e a sífilis são assintomáticas e, se não forem tratadas, podem conduzir a complicações no sistema reprodutivo e na saúde neonatal. Note-se que a Estratégia Global da Organização Mundial da Saúde para as doenças sexualmente transmissíveis prevê, até 2030, reduzir em 90% a incidência (número de novos casos) de sífilis e gonorreia.
O artigo, designado Mapping Geographical Patterns and High Rate Areas for Sexually Transmitted Infections in Portugal: A Retrospective Study Bases on the National Epidemiological Surveillance System, conta também com a participação de Bernardo Gomes.