Um estudo realizado pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que o consumo de fibras, presente em alimentos como leguminosas, cerais integrais e fruta, ajuda a prevenir o desenvolvimento de obesidade, ao longo da infância.
A investigação, publicada na revista Pediatric Obesity, avaliou o contributo independente de cada macronutriente alimentar – proteína, hidratos de carbono, lípidos e fibras – no desenvolvimento de obesidade durante a infância.
O estudo, coordenado por Carla Lopes, foidesenvolvido no âmbito do doutoramento da investigadora Ana Rita Marinho, membro do Laboratório de Nutrição e Saúde Cardiometabólica do Laboratório associado para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional (ITR).
Para perceberem melhor qual o efeito de cada macronutriente no desenvolvimento de adiposidade ou obesidade, ao longo da infância, os investigadores avaliaram o consumo alimentar de cerca de 4 mil crianças pertencentes ao estudo longitudinal Geração XXI.
Através de um questionário de frequência alimentar, calibrado com registos alimentares de 3 dias, o consumo foi avaliado quando as crianças tinham 4, 7 e 10 anos.
Nestas mesmas idades foram ainda efetuadas recolhas de dados sociodemográficos, avaliações antropométricas relativas ao peso, estatura e perímetro da cintura e anca das crianças, o índice de massa corporal (IMC) e uma avaliação da sua composição corporal para averiguar a percentagem de massa gorda.
Com o presente estudo, e considerando todos os macronutrientes, os autores conseguiram encontrar uma relação consistente entre o consumo de fibra e o desenvolvimento de obesidade.
Verificou-se que consumos mais elevados de fibra se associaram a um IMC mais baixo, aos 7 e 10 anos, assim como a níveis mais reduzidos de massa gorda e razão perímetro da cintura/anca.
Assim, ao longo da infância, “o estudo sugere que as crianças com uma alimentação mais rica em fibra poderão estar mais protegidas quanto ao desenvolvimento de obesidade”.
Na amostra analisada, os valores médios de fibra consumidos (aproximadamente 17 gramas/dia para estas idades) estavam em linha com os valores propostos pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar (EFSA na sigla em inglês).
São vários os benefícios associados à presença da fibra no regime alimentar. Entre eles destacam-se o baixo aporte energético; a melhoria da motilidade intestinal; a melhoria da sensibilidade à insulina; a promoção da oxidação da gordura e a melhoria do metabolismo lipídico; as alterações da microbiota intestinal; o reforço da integridade da barreira intestinal; e a menor inflamação através da diminuição das citocinas pró-inflamatórias.
“É importante mencionar ainda o papel que a fibra tem no aumento da saciedade, o que pode justificar o importante mecanismo na relação entre o consumo desta substância e o peso corporal, já que se verifica a diminuição do esvaziamento gástrico, que por sua vez diminui a absorção intestinal de glicose e a secreção de hormonas relacionadas com o apetite, como a grelina e o peptídio 1”, destaca Ana Rita Marinho.
A investigadora enuncia ainda algumas dicas para aumentar o consumo de fibra entre as crianças:
A primeira autora do estudo salienta a mensagem de que “quanto mais cedo houver uma introdução alimentar que comporte os alimentos ideias para uma vida saudável, como é o caso das fibras, e quanto mais precocemente conseguirmos combater ou prevenir a obesidade e os vários problemas de saúde que lhe estão associados, melhor tenderá a ser a saúde durante toda a vida. Crianças saudáveis serão adultos saudáveis.”
Acrescenta ainda que “a obesidade é atualmente um problema de saúde pública, pelo que considero muito importante minimizar o seu impacto desde a infância”.
A investigação intitulada Association of dietary macronutrient intake with adiposity during childhood according to sex: Findings from the generation XXI birth cohort, é também assinada pelos investigadores Milton Severo, Sofia Vilela, Duarte Torres, Andreia Oliveira e Carla Lopes do ISPUP, e membros do Laboratório para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional (ITR).
A investigação faz parte do projeto de doutoramento de Ana Rita Marinho, que recebeu financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Imagem: Pixabay/yilmazfatih