As crianças em idade escolar (dos 5 aos 9 anos) e os adolescentes, com idades compreendidas entre os 10 e os 17 anos, são os grupos populacionais que consomem mais açúcares, em Portugal. Os indivíduos com mais de 65 anos são os que apresentam um consumo mais baixo de açúcares, revela um estudo em que participam investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).
A investigação, publicada na revista “Public Health Nutrition”, analisou dados relativos ao consumo de açúcares da população portuguesa, recolhidos no âmbito do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF), realizado em 2015-2016.
Segundo Ana Rita Marinho, primeira autora do estudo, coordenado por Carla Lopes, o trabalho foi desenhado com o objetivo de “perceber qual é o consumo de açúcares dos portugueses, quais são os alimentos que mais contribuem para esse consumo e que fatores podem estar a interferir para a sua maior ingestão em determinados grupos”.
O trabalho avaliou a ingestão de açúcares em 5811 indivíduos, com idades entre os 3 meses e os 84 anos. Foram analisados, entre outros aspetos, o consumo total de açúcares e o consumo diário de açúcares livres (conceito que engloba o açúcar que é adicionado aos alimentos por consumidores ou fabricantes e também os açúcares naturalmente presentes no mel, xaropes, sumos de fruta e concentrados de sumos de fruta).
O consumo elevado de açúcares livres tem sido associado ao aumento do risco de cáries dentárias, assim como ao desenvolvimento de doenças como obesidade e diabetes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a ingestão de açúcares livres seja inferior a 10% do valor energético diário.
Verificou-se que os portugueses consomem em média 84g de açúcares totais por dia e 35g de açúcares livres, sendo o consumo superior em crianças, dos 5 aos 9 anos (50g/dia de açúcares livres), e em adolescentes, dos 10 aos 17 anos (53g/dia de açúcares livres). Cerca de 50% dos participantes com estas idades ingerem valores de açúcares livres superiores aos recomendados pela OMS.
Os refrigerantes, os doces, os iogurtes, os cereais de pequeno-almoço e os bolos e bolachas são os alimentos que mais contribuem para o consumo elevado de açúcares livres na população mais jovem. Por sua vez, os indivíduos com mais de 65 anos são o grupo populacional com menor ingestão diária de açúcares livres, tendo a grande maioria apresentado valores de ingestão dentro dos limites recomendados pela OMS.
Viu-se ainda que as crianças que têm pais mais escolarizados e que os adultos que praticam exercício físico regularmente ingerem menos açúcares livres. Já os indivíduos que têm estilos de vida menos saudáveis, como hábitos tabágicos, consomem mais açúcares livres.
Para Ana Rita Marinho, os resultados do estudo são relevantes para diferentes públicos. “Por um lado, a informação encontrada é útil aos decisores políticos, para que tenham evidência que ajude a delinear estratégias de saúde pública que possam, por exemplo, limitar os consumos, a disponibilidade de alimentos, taxar certos produtos e, ainda, perceber a eficácia das medidas implementadas. É igualmente útil a profissionais de saúde, para que conheçam os alimentos que mais contribuem e os principais grupos de risco e consigam, do ponto de vista clínico, perceber que linhas de ação podem adotar. Em última instância, é importante para educar a população, ajudando-a a fazer escolhas alimentares mais saudáveis”.
O estudo, intitulado Total, added and free sugar intakes, dietary sources and determinants of consumption in Portugal: the National Food, Nutrition and Physical Activity Survey (IAN-AF 2015–2016). São autores deste trabalho os investigadores Ana Rita Marinho, Milton Severo, Daniela Correia, Liliane Lobato, Sofia Vilela, Andreia Oliveira, Elisabete Ramos, Duarte Torres e Carla Lopes.
Imagem: Pixabay/congerdesign